domingo, 8 de abril de 2018

Platônico


        Em todas as vezes que ti vi – e eu me lembrava bem de cada uma delas – nunca pensei que haveriam próximas. Nunca se quer imaginei que poderia estar contigo em outro lugar que não fosse aquele. Porque, afinal, nunca houve um motivo para estarmos em outro ambiente dividindo a companhia um do outro. A vontade de estar ao seu lado era mais como um sonho, como querer ver o ídolo da sua banda favorita. Às vezes você se encaixava tão bem nisso. Um ídolo. Desses que você admira, quer estar perto, abraçar, sentir o perfume, beijar-lhe a bochecha. Era o que eu queria. O que eu sempre quis. Roubar alguns minutos do seu tempo para que os gastasse comigo.
         E, quando eu finalmente consegui, pensei estar sonhando. Mas, não estava. Era tão bom como cantar uma canção favorita. Começava dentro de mim e parecia se expandir para todos os lados. Era revigorante. Fazia-me se sentir viva como nunca antes. Eram efeitos bobos, que muitos já haviam sentido. Alguns gostavam, outros não. Para mim era novo, era delicioso. Apesar de temer, temer coisas que eu mal entendia, estava gostando das “novas” sensações e dos pensamentos confusos. Estava feliz. Porque você causava isso em mim, e eu gostava de – quase – tudo que vinha ao seu respeito.
         Lembro-me bem do seu olhar aquela noite. Não sei dizer se era diferente de como olhava para as outras pessoas. Não reparei nos gestos, nem em detalhes importantes. Droga. Eu deveria ter feito isso. Mas meus olhos estavam fascinados demais, perdidos em algum lugar dentro dos seus. Não era fácil pra mim. Por incrível que pareça, é natural estar contigo. Sinto-me bem, confortável. Mas ainda assim, fico totalmente perdida em seus olhos. Espero que você nunca descubra o efeito que tem sobre mim. Acho que me sentiria mais vulnerável e não gosto nenhum pouco disso. Prefiro que acredite que não sinto nada, nada tão intenso pelo menos. Se soubesse o que seus olhos causam ao encontrar os meus... Ah, se soubesse! Eu penso que riria. Acharia patético. Ou não. De todo o modo, você não precisa saber. Guardar tudo aqui dentro é a primeira opção agora. Está tudo bem.

*Texto escrito há provavelmente uns 10 anos, o que me faz ter um put# orgulhinho das minhas antigas habilidades com as palavras e os sentimentos.

 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

(a falta que você me faz).

Já anoiteceu e, novamente, sou tomada por aquela sensação de que algo está fora do lugar. Arrumei o quarto todo e até mesmo os sapatos foram organizados em fileiras impecáveis. Tomei café. Lavei um pouco de roupa. Segui uma lista de afazeres que deveriam ter trazido algum alívio pra essa inquietação aqui dentro.

Engano meu.

O que restou foi inconstância. Pensar que está bem quando, na verdade, desmorono com cada foto de casal feliz que paira pelas redes sociais. Check in em restaurantes de comida japonesa. Fotos de  pernas e telas com logo da Netflix.

Nossa.

Quero ignorar essa invejinha (branca?) que nasce aqui dentro, mas, estou falhando miseravelmente. Preciso assumir, de uma vez por todas, que dói não ter você nesses finais de dia pra contemplar o céu ganhar nuances mais escuras. Pra ver outro episodio daquela série que estamos acompanhando. Ou apenas me abrigar no abraço caloroso e revigorante que construímos juntos.

Então olho ao redor, meus fones de ouvido gritam canções de amor, sinto o frescor da noite entrar por uma fresta da janela, e a ficha vai caindo... Solitária, tento lembrar do quanto devo ser grata. Ainda que não tenha você ao meu lado agora, sei que tenho tanto a agradecer por você simplesmente existir.

Depois de tantas palavras escritas e ditas em vão, há uma razão pra acalmar minha instabilidade aflorada. Essa distância machuca, dói, tira o brilho dos meus finais de domingo, feriados, dias corriqueiros perdidos no meio da semana.

Mas ela não é permanente e pensar nisso me acalma. E tentando me acalmar, sigo esperando o próximo dia juntos, no qual por mais excêntrica que nossa mistura possa ser, levo a certeza de que faremos dar certo. Sempre.