sábado, 16 de julho de 2011

Can someone save us?

O relógio marcava 21:45 quando Sophie pulou nos braços de seu pai, tremendo freneticamente. Os agasalhos que cobriam o corpo da pequena não estavam sendo o suficiente para devolver-lhe o calor que mantinha sua animação viva. Brincar e sorrir era algo impossível de se fazer com aquela temperatura tão baixa. Era difícil mexer-se com tantas roupas apertando seus braços e pernas, ainda assim, os músculos pareciam estar congelando. Se Sophie deixa-se cair uma lágrima naquela momento, eu poderia jurar que ela viraria um pequeno pedaço de gelo.

Mas a garota, pequenina e indefesa, preferiu se esconder nos braços de seu super herói, aonde se sentia um pouca mais protegida. Ele a segurou fortemente como se pudesse criar um barreira a seu redor, livrando-a de todos os seus medos e, principalmente, mantendo seu corpinho aquecido.

Levei uma de minhas mãos até o rosto da minha pequena e, com a parte de cima dela, acariciei sua bochecha rosada. Ela tentou esboçar um sorriso tímido, falhando. Pobrezinha. Era agoniante vê-la dessa forma e não poder fazer absolutamente nada. Ryan via minha preocupação e, em uma tentativa bonita de aliviar o peso do meu sofrimento, deu-me um beijo estalado na testa, sussurrando que tudo ficaria bem.

Nem ele tinha certeza sobre isso, mas fazia um esforço para acreditar. Precisávamos, ao menos, transparecer isso para a inocente Sophie, que dormia em seu sono angelical, aninhada ao corpo do maior.
Todos sabiam que havia chego a hora. 

Desde criança eu havia escutado sobre esses tais dias. Alguns riam, outros temiam. Alguns fingiam não entender mas, no fundo, todos sabiam que eles tardariam, mas cedo ou tarde, viriam. E vieram...

Ninguém ousaria colocar-se para fora de sua casa, ou morreria antes mesmo de puxar o ar para respirar. Tudo que podia ser feito era manter-se perto uns dos outros e esperar. Esperar o vento soprar cada vez mais frio e violento até ser impossível de trazer-lo pra dentro. Até ele entrar cortante, fazendo seu interior queimar. O frio só iria ficar pior, segundo após segundo, dando às pessoas o direito de morrer lentamente, uma à uma. 

Eu sentia uma imensa falta de ver Nick. Seria bom tê-lo ali para me acalmar mais uma vez, como ele fizera a vida toda. Seria bom poder sair dali e dizer que eu o amava e que ele seria a primeira pessoa que eu procuraria no outro plano.

Observar Sophie dormindo me lembrava de todas as conversas que eu e ele havíamos tido. Em nossa plena fase de aventuras, achávamos que o mundo seria nosso domínio. Acreditávamos cegamente que estaríamos sempre juntos, quebrando todas as regras e ultrapassando todos os limites.

Doía recordar essas coisas, doía ver que o tempo havia passado tão depressa, e eu nem sabia aonde estavam aquelas que eu tanto amará e que tanto me fizeram bem. Eu rezava para estarem vivos, aguentando firmemente, pensando também em dias que os fizeram felizes.

Mas, doía.
Doía tanto quanto respirar. Tanto quanto ver minha garotinha tremer nos braços de Ryan. Era tentadora a ideia de por fim aquele sofrimento todo, e abrir as portas da pequena casa, deixando o vento nos desmontar. Porque, realmente, doía.

Dois mil e doze havia se passado há muito, e aquelas que não acreditaram, oravam por misericordia, implorando para a dor ir embora. 

Como eu disse, tarda, mas não falha.

E, daquele inverno, ninguém passaria.

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