quarta-feira, 21 de setembro de 2011

twenty

Sentei, com as pernas cruzadas, no chão do meu quarto. O dia era quente, e ficar sobre o piso gelado me pareceu uma ótima ideia. Suspirei, e comecei a observar de forma clínica as caixas ao meu redor. Todas com a mesma estampa, porém, de tamanhos variados. Em cada uma delas, protegidos pelo papelão consistente, existiam vários objetos que me traziam algum tipo de recordação. Abri, lentamente, a caixa mediana. Longa, mas sem profundidade. Nela eu guardava coisas concretas, deixando os papéis para as outras.Tirei dali embalagens de chocolate, lenços, pulseiras e fotos. Espalhei tudo pelo chão, e encarei minha vida passar diante meus olhos em um relance. Tudo que fui, tudo que eu quis, tudo que pensei que poderia ter. Até mesmo os erros cometidos, e as palavras nunca ditas.

Minha visão, de repente, ficou embaçada. Como se meu corpo estivesse acima, bem no alto, deitado em uma nuvem fofinha de algodão. Eu me esticava, e olhava pra baixo, vendo cada momento da minha vida, passar. Rápida miragem.

Pisquei. De novo, e mais uma vez.

Eu continuava no meu quarto, e a bagunça ao redor era enorme. Olhei para minhas mãos, e elas apertavam com força um pedaço de couro sintético. Uma carteira preta, velha, desbotada graças aos agentes do tempo. Sorri. Sim, eu me permiti abrir um sorriso pequeno, ligeiramente reprimido.

"Fica com isso."
"Eu vou fazer o que com ela?"
"Não sei. Guarda aí, na sua bolsa"
"Tudo bem."

Guardar? É, guardei. Sorri de novo, com a lembrança recém chegada. Olhei mais uma vez para o objeto em minhas mãos, reparei no adesivo com seu número favorito colado na parte exterior. Resolvi abri-la. Dentro, encontrei uma folhinha azul, nada mais. Fechei-a. Desejei ter mais auto-controle... Desejo em vão. Não resisti. Trouxe-a para perto de meu nariz e respirei fundo, tentando encontrar algum vestígio do seu aroma. Nada. Suspirei, cansada. Segurei-a por mais algum tempo, depois guardei novamente na caixa. É, guardei. Você me pediu pra guardar, lembra? Só não me pediu pra guardar esses sentimentos todos... Então, porquê eu os guardei? Não dentro da caixa. Dentro de mim.

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