sexta-feira, 4 de novembro de 2011


Enquanto a melodia entrava e saia de meus ouvidos, e os pensamentos dançavam no ritmo da batida frenética, pousei o olhar em um ponto fixo naquele palco. Apertei os dedos levemente envolta da garrafa d’água que tinha em mãos, e prendi por um segundo a respiração, como se fosse preciso parar o tempo para contemplá-lo melhor.

Sempre admirava os baixistas que balançavam suas cabeças em um ritmo calmamente ditado, ou então os guitarristas que se mexiam com mais intensidade. Ou quem sabe ainda o vocalista que, normalmente, chama mais atenção por estar em evidencia, frente à banda.

Mas não daquela vez.

Naquela noite, naquele palco, sobre as luzes florescentes, meus olhos se fixaram mais ao fundo, mais distantes do que eles geralmente iam. Ele era diferente, e entre todos os outros, foi nele que meus olhos pararam.

Nunca tinha me sentido tão atraída a observar um baterista. Não era como se ele fosse o garoto mais bonito que eu já vira, mas havia algo nele que, mesmo de longe, me encantava. E eu sabia o que era.

Ele sorria.

Enquanto suas mãos seguravam fortemente as baquetas que brincavam entre seus dedos e estalavam nos pratos e tambores, seus lábios se abriam e formavam os sorrisos mais doces que eu já havia visto em toda minha vida. Atrás daquela armadura de “estrela do rock”, eu podia ver um brilho próprio, uma inocência de criança e uma malícia jovial que se misturavam perfeitamente.

Eu senti como se o sorriso dele preenchesse algo dentro de mim. Lutei contra meus impulsos para evitar aquela sonda intensa em cima do pobre rapaz, mas eles pareciam determinados a continuar. E toda vez que ele movia os lábios, sorrindo para o baixista, eu fingia que era pra mim e sorria de volta, como se ele pudesse me ver.  Não fazia ideia de quem era aquele garoto, mas ele havia me cativado de uma forma quase mágica, instantânea.

(...)

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