terça-feira, 3 de abril de 2012

Primeiro do quatro. Primeiro dia. Primeiro de muita coisa.

Estava sentada na terceira carteira, da segunda fileira, ao lado direito da porta. Não era exatamente seu lugar favorito, pois tinha uma mania incorrigível de encostar-se na lateral da parede, como se isso torna-se o local mais aconchegante e, então, a afastasse do resto da sala. Ela não se importava em manter essa certa distância dos outros alunos. Na verdade, até considerava necessária. Não apreciava muito afeto. Nada de troca de olhares e nada de sorrisos. Especialmente naquela noite. Que deveria, de fato, ser só mais uma entre tantas outras que ela passara ali. Mais uma noite sem graça, em que o tempo parecia se arrastar vagarosamente, enquanto vozes se misturavam ao fundo, e ela não compreendia uma coisa sequer. Nem das que eram comentadas durante a aula, e muito menos das que se passavam em sua mente.

Do lugar onde estava sentada, pelo menos podia observar tudo que acontecia no longo corredor do segundo andar. As moças que iam e vinham tamborilando seus saltos e rebolando nas calças apertadas. Os rapazes - geralmente em grupos - que riam e zombavam um do outro. E claro, sempre os casais apaixonados trocando beijos e abraços calorosos. Argh! Revirava os olhos cada vez que via os "dessa espécie", como costumava chama-los em suas conversas com a melhor amiga. Já era irritante esbarrar os olhos neles em qualquer outra noite, mas naquela seria realmente desgastante, e era tudo que ela não precisava.

Mesmo correndo esse risco, continuou observando o lado de fora com a ansiedade quase saltando pelo brilho dos olhos, pensando nas coisas que poderiam acontecer assim que saísse dali. Metade dela queria ir para casa, afundar a cabeça no travesseiro e ter uma noite tranquila de sono. A outra metade sabia que isso não ia acontecer. Sabia muito bem quais seriam os próximos passos, mas tentava pensar que pudessem ser fáceis - o que era uma mera enganação de seu subconsciente. Independente de seus desejos, ela iria fazer o que tinha planejado, por mais dor que isso pudesse causar depois, quando finalmente se jogasse no conforto de sua cama.

Desviou sua atenção para seu espelho de mão, e analisou mais uma vez os lábios, para ter certeza de que o batom não estava borrado. Usava um tom escuro de Pink, mas era o único vislumbre de cor em seu look naquela noite. Os olhos exibiam uma tonalidade tão negra que ela esperava realmente não derramar nenhuma lágrima nas próximas horas, se não todo o trabalho árduo de maquiar-se iria por água a baixo. As roupas também eram escuras. Uma blusa preta com estampas florais e um short jeans - quase preto - com meia calça por baixo. Tão sombria quanto os pensamentos que tinha em mente. Tão sem vida quanto seu coração estava.

Guardou o espelho, fechou o caderno e segurou o material em um dos braços. Olhou mais uma vez ao redor, e conseguiu abrir um sorriso amargo pra amiga sentada a sua direita. Era hora de ir. Finalmente iria encarar sua dolorosa realidade pela primeira vez. Sem animo algum, desceu as escadas, e caminhou lentamente até a esquina onde esperava sua carona todas as noites.

"Passe por cima de mim", pensava toda vez que um carro atravessava a rua. "Passe
Que tolice... Mas porque tinha que doer tanto?



Um comentário:

BIANCA disse...

só isso kk? tava tao boa a história faz a continuação
bjoo dorei seu blog
http://bibimiga.blogspot.com.br/