Essa coisa toda de "tipo".

Estávamos escorados no corrimão da escadaria do terceiro andar, eu e meus dois amigos, um hétero e outro nem tanto, quando a ideia surgiu. Eles riram e fizeram algumas piadas quase engraçadas sobre o meu estado civil. Solteira. Mas não aquele tipo de solteira “ficou pra titia” e também não aquele “sozinha por opção”. Tudo bem, talvez fosse esse último. A verdade é que opções nunca faltam, seja você gostosa, loira, de olhos claros, ou uma magricela, de aparelho, óculos, e tudo que não se encaixa no perfil “concurso de beleza”. Isso, no final das contas, não te deixará sem pretendentes. Mesmo porque, nesse mundo, como dizem por aí, tem gosto pra tudo. E estão mesmo certos. Tem gosto pra tudo, então, sempre vai ter um carinha a fim de você, não importa o quão insuportável suas manias sejam, e nem que seu corpo esteja longe de ser um violão.

O problema de algumas pessoas, e isso me inclui, é o fato de nunca gostar das opções que se tem. E antes que alguém diga que isso é coisa pra quem fica escolhendo demais, eu nego e ainda acrescento uma boa justificativa. Não é questão de desejar príncipe encantado porra nenhuma! Nós estamos bem crescidinhas pra acreditar em contos de fadas. Eu, por exemplo, não espero que ele apareça sendo o melhor cara do mundo e impecavelmente lindo. Mas eu espero que ele faça meu coração bater mais forte. Eu espero que ele me faça morder os lábios para controlar a vontade de beijá-lo. E se no caso, eu não sinto isso por nenhum dos nomes da minha listinha de possíveis pretendentes, porque diabos eu lhes daria uma chance? Pra magoá-los depois? Amor nasce com o tempo... Isso todo mundo ta cansado de saber. Mas atração física não. E eu não sou do tipo que força a barra. Ou eu bato os olhos e gosto, ou sem chances.

Nessa linha de raciocínio, decidimos brincar de encontrar um garoto ideal que se encaixasse nos meus gostos. Observei com atenção cada menino que descia ou subia a escada, vários deles bonitos, nenhum o meu tipo.

- Aquele! Olha aquele! – meu amigo apontou pra um ser todo engomadinho, mais nerd do que qualquer cara de The Big Bang Theory.

- De jeito nenhum – eu disse revirando os olhos.

- Gostei daquele – disse meu outro amigo.

- Ok, mas não estamos procurando um namorado pra você... É pra mim! Pra mim! Foco, por favor – conclui rindo, e continuei a analisar todas aquelas pessoas.

Eles apontavam cada hora pra um tipo diferente, e era impressionante, por mais que eu tentasse explicar, eles não conseguiam encontrar o cara certo. Era mais fácil eu fazer aquilo sozinha. Afinal, sei bem o que me atrai.

Foi aí, bem na hora que o intervalo acabou, que eu o vi de costas. Você sabe quando alguém faz seu tipo mesmo que veja só uma parte da pessoa. Sabe pelo jeito que o cara caminha, ou a forma como o cabelo dele cai sobre o rosto. E quando ele se virou, e eu o vi sorrir, eu terminei minha lista de motivos que constatavam que eu sabia.

Bastou que eu o visse andar, daquela forma serena e tão diferente dos meus passos elétricos. Bastou que eu visse o sorriso, doce, e malditamente cativamente. Bastou que meus olhos se encontrassem com os dele por uma fração mínima de segundos para eu saber que, sim, ele era indiscutivelmente o meu tipo.