Em uma tarde de março, já percebendo que algo estranho pairava no ar há dias, recebi meu namorado da época no portão de casa trajando sua melhor cara de cachorro sem dono. Os olhos moldurados por olheiras profundas que pareciam fazer morada ali. Ele parecia cansado e triste. Talvez mais triste do que qualquer outra coisa. Por um momento, pensei em abraça-lo numa tentativa genuína de fazer toda aquela tristeza ir embora. Mas então suas palavras começaram a sair e me dei conta de que, na verdade, a tristeza nascera por algo que estava prestes a acontecer.
- Eu acho que... que.. Precisamos de um tempo, sabe? - Foi o que ele disse, sem conseguir desviar os olhos do all star velho que usava. Fique imóvel. Meio incrédula. Sabia que as coisas não estavam indo bem, mas, a gente nunca sabe ao certo quando a outra pessoa vai resolver colocar um fim na situação toda.
- Entendi. - Eu disse, tentando imaginar quais dos milhares de motivos tinha encorajado-o nessa decisão, Teria sido o último corte de cabelo dele que eu detestei e nem fiz questão de esconder? Ou, quem sabe, por eu ter ido naquela festa com meus amigos? Não. Eu não poderia dormir sem saber a resposta para minhas suposições, então, respirei fundo e perguntei: - Por quê você quer um tempo?
Então, ele se enrolou todo. Alguma paranoia sobre não assumir status de relacionamento nas redes sociais, alguns pontos sobre meus amigos, sobre meu jeito, sobre isso e aquilo. E depois de toda aquela lista de motivos, ele encerrou com chave de ouro, dizendo:
- E ah... Você não diz que me ama.
MEU DEUS. MEU DEUS MESMO.
Eu fiquei pensando, pensando... Surgiu uma vontade imensa de chorar. Nem sei se era tristeza, desespero, ou simplesmente por me achar uma garota anormal. Sério!? Como assim eu precisava retribuir um "eu te amo" em menos de três meses de namoro? Eu se quer o conhecia com tão pouco tempo! Mas essas explicações não foram suficiente...
Porque algumas pessoas são assim, confundem paixão com amor. Algumas pessoas tem os sentimentos mais intensos, e da mesma forma como eles aparecem, acabam partindo. Algumas pessoas precisam ouvir e dizer declarações o tempo todo para se sentirem seguras. E desse jeito, acabam habituando-se a transformar isso em algo corriqueiro. Aliás, constantemente noto casais ao telefone dizendo "ok, tudo bem, beijos, eu te amo, tchau", sem uma pausa pra respirar! O "eu te amo" fica emendado nas outras palavras, e eu fico me perguntando como as pessoas conseguem disparar um sentimento assim, de uma forma tão banal, sem colocar uma misera atenção no que se diz?
Mas eu não era uma dessas pessoas.
E, assim, esperei por longos e turbulentos anos até encontrar alguém que me entendesse desse jeitinho que sou. Um dia, ele finalmente apareceu. E pra minha sorte, não transformou isso em algo pesado.
É simples. Às vezes estamos deitados, abraçados enquanto assistimos a um episódio incrível do nosso seriado favorito, e ele resolver dizer que me ama. Ahhh... Às vezes eu digo também. Tem vez que só abro um sorriso e me aperto mais dentro do nosso abraço. Não tem problema. Não tem stress. Antes de desligar o telefone, por exemplo, é só "beijos" e "boa noite". Porque, convenhamos, "eu te amo" não é "tchau". Sentimentos não são bordões. Eles não são "bom dia", "até logo", "se cuida".
Sentimentos a gente... sente!? Não é!?
Mas se for pra dizer, que seja por inteiro. Que seja verdadeiro. Que vá muito além das palavras. Que seja nos detalhes. Na presença. E nos atos. Porque eu prefiro mil vezes um "gosto muito de você" sincero do que um "eu te amo" que desaparecerá no primeiro obstáculo.
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