sábado, 9 de setembro de 2017

Peça errada, entende?

E lá vamos nós de novo, tentando fingir que está tudo bem. Eu aqui, no meio desses rostos conhecidos, abrindo um pequeno sorriso de canto como quem diz "sou quietinha assim, mas estou ok". Pela expressão que eles me devolvem, posso jurar que não acreditam na minha tentativa ridícula de parecer animada com mais esse encontro (amigável?).

Eles não fazem a menor ideia, mas eu sou a pessoa mais tagarela que existe e, vez ou outra, meus amigos até me pedem para ir com calma e não emendar uma conversa na outra, num desespero digno de quem precisa falar tudo antes que o mundo termine, temendo ficar com uma boa história presa nas cordas vocais.

Ah histórias...

Gosto tanto das boas e velhas histórias que não hesito em puxar assunto, vasculhando a vida de desconhecidos (e conhecidos) para que destilem várias delas em cima de mim, das quais eu absorvo tanta emoção que por momentos consigo sentir como se fossem minhas próprias. E é exatamente essa a melhor parte das boas histórias... Elas entram vagarosamente pelos ouvidos, mas penetram na nossa essência, na forma mais pura pra se descobrir e praticar empatia.

Chega soar irônico que eu, uma amante devastadora de histórias, não consiga sequer aguentar dez minutos escutando as conversas que se arrastam entre vocês. Tudo que consigo fazer é encarar o céu estrelado e pensar no esforço que estou fazendo para parecer interessada em um diálogo sobre futebol ou em qual marca de cigarro poderia ser melhor.

Tudo bem, tudo bem. Cada grupo com seus assuntos, suas afinidades e seus assuntos peculiares.

Eu sei bem disso.

O problema aqui sou eu, não vocês.

Eu que não vejo a menor graça. São meus olhos que não brilham quando alguém resolve elogiar friends enquanto outro fala mal de how i met your mother (caralho, não mexam com a minha série favorita. É pedir muito?). É o meu coração que não sorri com aquelas piadinhas sobre meu pen drive cheio de música pop, porque aliás, nem são minhas canções que tocam ao fundo.

Fortemente, sinto-me arrebatada por uma sensação nostálgica por tudo aquilo que eu amo e sou. Sinto saudades de sentir a alma preenchida de vida ao contar sobre minhas paixões, de rir ao falar das traquinagens dos meus gatos, de alegrar-me com as novas conquistas e dividi-las com aqueles que amo. Sinto até falta de quando riem de mim, notando minha presença e se alegrando com ela. Juro que nunca fico brava de verdade, porque sei que a piadas são cheias de carinho e, no fundo, querem dizer apenas "gostamos tanto de ter você aqui, nem que seja pra te zuar". 

Acho que é assim que a gente se sente no lugar certo, cercado pelas pessoas certas. Que variam para cada um de nós, mas, não podemos forçar para que isso pareça encaixar.

Peça errada, entende?

Por mais que a gente tente, tente... tentar muito já é um erro.

Porque lar é sempre onde nosso coração está.

E o meu não está aqui.


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