- Eles chegaram! - disse Sophie, saltando da cama em desespero - Vou descer para recebe-los, ok? - virou-se para Nicollas que estava parado em frente à porta do banheiro, pronto para entrar no banho.
- Faça isso - disse ele.
Então, a garota desceu os degraus da escada, um à um, cuidadosamente. O salto de sua sandália batia contra a madeira clara, fazendo um barulho estalado, semelhante ao martelar de um prego na parede. Ao chegar no primeiro degrau, endireitou a postura, ajeitando uma mexa do cabelo para trás. Caminhou até a porta no momento exato em que Cate, sua velha amiga, abriu-a. Sophie sorriu e foi de encontro a convidada, abraçando-a apertadamente.
- Que saudades... - zombou Sophie, sabendo que fazia apenas algumas horas desde que vira a outra pela última vez.
- Tá louca então, bicha? - foi a vez de Cate falar, usando seu habitual "apelido" para se referir a menor, fazendo-a rir.
Sophie cumprimentar o namorado de sua amiga, e todos se dirigiram à sala de visitas. Ela se jogou em uma das poltronas cor-de-rosa que existia ali, descansando um pouco os pés, antes das aventuras que a noite prometia. Cate fez o mesmo mas Jason, seu namorado, permaneceu em pé. Conversaram amenidades até que Nick descesse e se junta-se à eles.
Nicollas colocou seu CD favorito da cantora pop Lady Gaga - Born this way - para tocar, e os quatro jovens seguiram para a cozinha, prontos para colocarem a mão na massa, ou melhor, no fruto.
Em cima da pia de marmore, estavam duas abóboras, uma ao lado da outra. A maior e com algumas manchas amareladas forá comprada por Sophie um pouco antes da menor chegar a casa do amigo. E a outra, alaranjada e levemente achatada, era de Nicollas. Ambas esperavam para serem desenhadas, cortadas e admiradas.
- Deveríamos ter trazido uma também. - disse Cate, sentando-se em uma cadeira ao lado do pequeno balcão em frente à mesa.
- Tudo bem. Vocês trouxeram chocolates... - Sophie tentou ajudar, lembrando-a disso - E outra, Nick pode cuidar da dele sozinho. Vocês me ajudam com a minha.
A pequena Sophie olhou para sua abóbora, deformada e com cores mistas, e sentiu vontade de rir. Era um fruto realmente feio, pensou. Mas ela iria tentar consertar esse desastre da natureza, nem que levasse um bom tempo. Então, apertou o tecido branco da camiseta que Nicollas vestia, chamando sua atenção. Perguntou à ele onde poderia encontrar uma caneta para desenhar na abóbora, com esperanças de que ela ficasse um pouco melhor, ou mais bonita.
- No escritório - respondeu ele já cortando a sua, sem ao menos traçar os olhos ou a boca nela.
Sophie voltou com uma caneta de grifar textos vermelha, e apoiando sua mão fortemente sobre o fruto, começou a desenhar olhos, boca, e nariz na casca de cores distintas. Desenhou com o máximo de cuidado possível, como se fosse uma obra de arte a ser construída. Após admirar seu trabalho, e constatar que estava como gostaria, pegou uma faca qualquer e começou a cortá-la. Fez isso por alguns segundos, dando-se conta de que não tinha toda a força suficiente para tal ato, e chamou Cate para continuar contando-a.
A maior apertou fortemente os dentes afiados da faca sobre os traços que Sophie traçará ali, e um liquido levemente alaranjado começou a escorrer à baixo dos olhos desenhados, como se a abóbora estivesse derramando lágrimas. Todos riram enquanto Jason fotografava cada cena dos jovens, incansavelmente. Assim, sempre poderiam se lembrar daquele "pré" halloween juntos, e do quão divertido fora preparar aquelas abóboras.
Quando Cate cansou-se de cortar, foi a vez de Jason terminar o trabalho. Nick, entretanto, já havia terminado a sua há tempos, e uma vela fora colocada dentro dela, dando vida e luz àquele ser inanimado. Depois, fez o mesmo com a abóbora de "Sophie", e colocou as duas sobre o mármore novamente.
Apagaram as luzes, e a escuridão tomou conta de toda a cozinha, deixando a luminosidade que saia pelos cortes do fruto, em evidencia. Era gracioso de se contemplar e sorrisos jorravam a medida que os jovens elogiavam seus próprios projetos. Eles estavam satisfeitos, maravilhados, e orgulhosos, como pais que assistem a uma apresentação dos filhos no colégio. Enquanto Amém fashion tocava ao fundo, assistiam ao brilho único e majestoso do fogo que escapava sem temor algum, refletindo-se em seus olhos.
- Vamos tomar sorvete agora, se não vai ficar tarde - disse Cate, quebrando o silêncio.
- Nós podemos leva-las - completou Jason.
- Leva-las? - repetiu Sophie, interrogando.
- Sim, sim. E deixamos elas na frente de alguma casa - ele explicou.
- Certo. Faremos isso - Nicollas disse por fim, já segurando sua abóbora.
Saíram pela rua da casa de Nick rumo à lugar nenhum, mas estavam certos de que seria divertido. Os dois garotos levavam os frutos enquanto Sophie e Cate, em cima de seus saltos agulhadas, se ocupavam de seguram suas bolsas e a câmera.
O bairro estava tão silencioso quanto um cemitério, e tão assustador quanto um também. Não havia uma sequer alma viva, além dos quatro jovens, andando por ali naquela noite, mas isso não os incomodou. Seguiram andando, conversando e rindo como se, de fato, fossem os últimos sobreviventes do mundo.
- Meu pé... - gemeu Cate - Tá doendo - e encarou Sophie.
- O meu também - disse a pequena olhando para os saltos que ambas usavam - Ei, estamos ficando para trás - continuo.
- Esses meninos... - protestou Cate, observado-os bem mais a frente.
- Vocês dois! Esperem a gente, poxa - pediu Sophie.
Jason e Nicollas falavam algo sobre encruzilhadas, e pensavam sobre qual seria o melhor lugar para deixar as tão adoráveis e trabalhosas abóboras. Mas as duas jovens só queriam mesmo era encontrar um lugar para sentarem e descansarem seus pés exaustos. Decidiram então, sentar-se na calçada de uma bela casa de esquina. Encararam os garotos, e logo eles se juntaram a elas, concordando que poderiam tirar algumas fotos ali, depois deixariam os frutos em qualquer casa, e seguiriam até a sorveteria.
Um, dois, três.
Vários flashs embaçaram a visão dos amigos, fazendo-os rir. Laura e Natan, como haviam nomeado as abóboras, apareciam reluzentes nas fotografias, em uma última recordação antes de serem abandonados.

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