segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Halloween, part2.

- Eles chegaram! - disse Sophie, saltando da cama em desespero - Vou descer para recebe-los, ok? - virou-se para Nicollas que estava parado em frente à porta do banheiro, pronto para entrar no banho.

- Faça isso - disse ele.

Então, a garota desceu os degraus da escada, um à um, cuidadosamente. O salto de sua sandália batia contra a madeira clara, fazendo um barulho estalado, semelhante ao martelar de um prego na parede. Ao chegar no primeiro degrau, endireitou a postura, ajeitando uma mexa do cabelo para trás. Caminhou até a porta no momento exato em que Cate, sua velha amiga, abriu-a. Sophie sorriu e foi de encontro a convidada, abraçando-a apertadamente.

- Que saudades... - zombou Sophie, sabendo que fazia apenas algumas horas desde que vira a outra pela última vez.
- Tá louca então, bicha? - foi a vez de Cate falar, usando seu habitual "apelido" para se referir a menor, fazendo-a rir.
Sophie cumprimentar o namorado de sua amiga, e todos se dirigiram à sala de visitas. Ela se jogou em uma das poltronas cor-de-rosa que existia ali, descansando um pouco os pés, antes das aventuras que a noite prometia. Cate fez o mesmo mas Jason, seu namorado, permaneceu em pé. Conversaram amenidades até que Nick descesse e se junta-se à eles.

Nicollas colocou seu CD favorito da cantora pop Lady Gaga - Born this way - para tocar, e os quatro jovens seguiram para a cozinha, prontos para colocarem a mão na massa, ou melhor, no fruto.

Em cima da pia de marmore, estavam duas abóboras, uma ao lado da outra. A maior e com algumas manchas amareladas forá comprada por Sophie um pouco antes da menor chegar a casa do amigo. E a outra, alaranjada e levemente achatada, era de Nicollas. Ambas esperavam para serem desenhadas, cortadas e admiradas.

- Deveríamos ter trazido uma também. - disse Cate, sentando-se em uma cadeira ao lado do pequeno balcão em frente à mesa.
- Tudo bem. Vocês trouxeram chocolates... - Sophie tentou ajudar, lembrando-a disso - E outra, Nick pode cuidar da dele sozinho. Vocês me ajudam com a minha.

A pequena Sophie olhou para sua abóbora, deformada e com cores mistas, e sentiu vontade de rir. Era um fruto realmente feio, pensou. Mas ela iria tentar consertar esse desastre da natureza, nem que levasse um bom tempo. Então, apertou o tecido branco da camiseta que Nicollas vestia, chamando sua atenção. Perguntou à ele onde poderia encontrar uma caneta para desenhar na abóbora, com esperanças de que ela ficasse um pouco melhor, ou mais bonita.

- No escritório - respondeu ele já cortando a sua, sem ao menos traçar os olhos ou a boca nela.

Sophie voltou com uma caneta de grifar textos vermelha, e apoiando sua mão fortemente sobre o fruto, começou a desenhar olhos, boca, e nariz na casca de cores distintas. Desenhou com o máximo de cuidado possível, como se fosse uma obra de arte a ser construída. Após admirar seu trabalho, e constatar que estava como gostaria, pegou uma faca qualquer e começou a cortá-la. Fez isso por alguns segundos, dando-se conta de que não tinha toda a força suficiente para tal ato, e chamou Cate para continuar contando-a.

A maior apertou fortemente os dentes afiados da faca sobre os traços que Sophie traçará ali, e um liquido levemente alaranjado começou a escorrer à baixo dos olhos desenhados, como se a abóbora estivesse derramando lágrimas. Todos riram enquanto Jason fotografava cada cena dos jovens, incansavelmente. Assim, sempre poderiam se lembrar daquele "pré" halloween juntos, e do quão divertido fora preparar aquelas abóboras.

Quando Cate cansou-se de cortar, foi a vez de Jason terminar o trabalho. Nick, entretanto, já havia terminado a sua há tempos, e uma vela fora colocada dentro dela, dando vida e luz àquele ser inanimado. Depois, fez o mesmo com a abóbora de "Sophie", e colocou as duas sobre o mármore novamente.

Apagaram as luzes, e a escuridão tomou conta de toda a cozinha, deixando a luminosidade que saia pelos cortes do fruto, em evidencia. Era gracioso de se contemplar e sorrisos jorravam a medida que os jovens elogiavam seus próprios projetos. Eles estavam satisfeitos, maravilhados, e orgulhosos, como pais que assistem a uma apresentação dos filhos no colégio. Enquanto Amém fashion tocava ao fundo, assistiam ao brilho único e majestoso do fogo que escapava sem temor algum, refletindo-se em seus olhos.
- Vamos tomar sorvete agora, se não vai ficar tarde - disse Cate, quebrando o silêncio.
- Nós podemos leva-las - completou Jason.
- Leva-las? - repetiu Sophie, interrogando.
- Sim, sim. E deixamos elas na frente de alguma casa - ele explicou.
- Certo. Faremos isso - Nicollas disse por fim, já segurando sua abóbora.

Saíram pela rua da casa de Nick  rumo à lugar nenhum, mas estavam certos de que seria divertido. Os dois garotos levavam os frutos enquanto Sophie e Cate, em cima de seus saltos agulhadas, se ocupavam de seguram suas bolsas e a câmera.

O bairro estava tão silencioso quanto um cemitério, e tão assustador quanto um também. Não havia uma sequer alma viva, além dos quatro jovens, andando por ali naquela noite, mas isso não os incomodou. Seguiram andando, conversando e rindo como se, de fato, fossem os últimos sobreviventes do mundo.

- Meu pé... - gemeu Cate - Tá doendo - e encarou Sophie.
- O meu também - disse a pequena olhando para os saltos que ambas usavam - Ei, estamos ficando para trás - continuo.
- Esses meninos... - protestou Cate, observado-os bem mais a frente.
- Vocês dois! Esperem a gente, poxa - pediu Sophie.

Jason e Nicollas falavam algo sobre encruzilhadas, e pensavam sobre qual seria o melhor lugar para deixar as tão adoráveis e trabalhosas abóboras. Mas as duas jovens só queriam mesmo era encontrar um lugar para sentarem e descansarem seus pés exaustos. Decidiram então, sentar-se na calçada de uma bela casa de esquina. Encararam os garotos, e logo eles se juntaram a elas, concordando que poderiam tirar algumas fotos ali, depois deixariam os frutos em qualquer casa, e seguiriam até a sorveteria.

Um, dois, três.

Vários flashs embaçaram a visão dos amigos, fazendo-os rir. Laura e Natan, como haviam nomeado as abóboras, apareciam reluzentes nas fotografias, em uma última recordação antes de serem abandonados.

Foram apanhadas novamente pelos meninos, e ambos as deixaram em frente à duas casas grandes, típicas daquele bairro. Pronto. Agora elas ficariam ali, jogadas ao acaso, brilhando para quem quisesse contempla-las até seu fogo acabar. Depois que os jovens continuassem sua caminhada, o que aconteceria com elas era um mistério, um enigma que eles nunca saberiam. Tudo, na verdade, era imprevissível. Tinham sorte de estarem juntos, de terem dito uma linda noite para recordarem-se. Mas nunca saberiam sobre o que o destino guardava à eles, assim como aquelas duas pequeninas jogadas ao chão, na noite quente de halloween da pequena cidade.

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