sábado, 12 de novembro de 2011

Roçou a lâmina afiada na pele alva de seu punho, em um movimento firme, deliszando-a de um lado ao outro, mas sem colocar força o suficiente para causar-lhe algum ferimento ou dor. Seu olhar estava distante, e ela pensou nas gotas vermelhas que escorreriam ali caso apertasse o objeto metálico um pouco mais forte. O pensamento era amargo, e a fez sentir uma pontada no estômago, ameaçando colocar para fora o almoço do dia anterior, se é que restará algo em seu organismo. Estava convicta de que naquele momento, as dores pelo corpo frágil, o nó na garganta, e o aperto no peito doíam muito mais que ter o braço dilacerado, jorrando seu líquido vital por todo o cómodo. Quem limparia a sujeira? Perguntou-se injenuamente. Quem? Não queria expor aqueles que amava à uma situação tão penosa, tão contraditória a sua boa e feliz criação. Eles se questionariam sobre onde erraram, e nunca encontrariam uma resposta concreta. Então, lastimariam-se a vida inteira por um erro inexistente. Não existia um culpado, e para Catarine isso pouco importava. Queria desistir, render-se as sombras que encobriam sua visão. Ela estava cega pelos fantasmas do fracasso. Estava no chão, derrubada. Respirou fundo, jogando uma mecha do cabelo da cor de chocolate para trás da pequena orelha. Uma gota de suor escorreu pela lateral de seu rosto junto à uma lágrima que ensaiara por longos segundos antes de cair. Era a representação perfeita da derrota, da angustia que havia lhe consumido. Pobre Catarine...

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