terça-feira, 15 de novembro de 2011

Nightmare.

Estava escuro, era tarde da noite, mas ela não sabia ao certo que horas. Nas ruas, as únicas almas que pairavam de um lado ao outro eram os típicos pedintes da cidade, ou aqueles corpos cheirando a cerveja barata. Sophie observava aflita ao redor, temendo que algum deles chegasse perto demais. Sempre fora preocupada, medrosa e insegura em relação as pessoas, principalmente as desconhecidas. Queria distancia de todas, menos de Nicollas, o amigo que caminhava ao seu lado. Ele a tranquilizava, e enquanto seus pés seguiam um caminho qualquer pelas calçadas da cidade, conversavam sobre coisas que faziam ambos rirem até sentirem pontadas na barriga. Em um pedaço do percurso, porém, Sophie sentiu outros olhos além dos Nick, encarando-os. O corpo estremeceu como se tivesse sido atingido por um golpe de vento, mas não estava ventando. A noite era silenciosa, e o ar era tão quente quanto o sol escaldante das quatro da tarde. Isso não foi o suficiente para impedir que cada fio de cabelo da garota se arrepiasse. Ela sabia que alguém estava observando-a, só não tinha coragem de virar-se e constatar quem era, ou o que era. Então, apressou seus passos, deixando Nicollas confuso.

- Vamos, depressa! - disse quase sem respirar, tomando cuidado para não falar alto demais.

Viu quando o amigo inclinou de leve o rosto para o lado, e aproveitou para fazer o mesmo, dando-se conta de que alguém realmente estava seguindo os dois. A respiração falhou, sentiu o oxigênio faltar, e por um segundo pensou que seu corpo fosse se desmanchar ali, fazendo-na cair de joelhos. Nick, rapidamente, a impulsionou a continuar, dizendo:

- Anda Sophie! Precisamos encontrar algum lugar seguro, cheio de gente.

Esse era o problema. Não havia um bar aberto, ou casa, hospital, o que fosse. Não havia nada. Só a coloração âmbar dos postes e o brilho da lua, que iluminavam um longo caminho rumo à lugar nenhum. Mas os amigos andavam, acelerando seus passos e também os batimentos cardíacos, e a pequena mal conseguia respirar. Ou caminhava, ou respirava. Escolheu a primeira opção, sem pensar muito. Os olhos do desconhecido continuavam sobre ela, e o homem chegava cada vez mais perto, como se cada passo que ele desse fosse o triplo dos que ela dava. Parecia o fim da linha para eles quando avistaram um restaurante aberto na esquina da rua em que se encontravam.

Nicollas colocou toda sua força nos pés cansados, e puxando a amiga pela mão, finalmente entraram dentro do local. Existia bastante gente ao redor, mas não foi o suficiente para afastar o tal desconhecido. Ele parou na porta, pelo lado de fora, e manteve seus olhos focados em Sophie como se o seu maior interesse estivesse nela. A garota o encarou por meros segundos, sentindo os joelhos fraquejarem, seu corpo todo tremia e ela mal conseguia se manter em pé. Seu fiel amigo puxou uma cadeira, fazendo-na sentar. Sentou-se a sua frente, e ambos respiraram fundo em uma tentativa aflita de se acalmar. Mas a menor não conseguia, precisava de mais do que aquilo, um copo d'água talvez. Levantou-se de súbito, e ao primeiro passo que deu, chocou-se com outra pessoa. Estava tão inquieta e desesperada que mal havia prestado atenção. Levantou os olhos e reconheceu sem esforço aqueles traços. Era ele, seu meio herói. Aquele que ela costumava pensar que tinha. Ele estava ali para salvá-la? Não, não. Fazia tanto tempo que ele não a segurava mais nos braços e lhe protegia. De fato, era só mais uma brincadeira do destino. Ele não estava ali por ela, mas os olhos da pequena se encheram de lágrimas por tê-lo ali, tão perto novamente.

Ela podia aguentar o tremor nos joelhos, podia aguentar os pés latejando de tanto andar, podia suportar a boca seca e o coração disparado, mas não a vontade que tinha de abraçar aquele corpo a sua frente. Então laçou-o com seus braços e buscou forças para apertá-lo contra seu peito.

- Não me deixa, por favor. Não me deixa... - e as lágrimas de Sophie escorreram pelas bochechas, atingindo a camiseta que o moreno vestia, sem pudor algum.

- Eu preciso ir. Estão me esperando na outra mesa - empurrou levemente o corpo dela para que se afastasse. 

Mas ela o apertou mais ainda contra si, e continuo - Por favor... Só um pouquinho... Eu 'tou com tanto medo. Não vai embora, não... - e fechou os olhos com força para evitar que mais gotas salgadas fossem derramadas.

Sentia-se tão frágil, tão desprotegida. Lá fora, um desconhecido esperava por ela, com olhos de caçador que anseia por sua presa, e era Sophie o cobiçado animal indefeso. Desejou contar isso à seu meio herói, quis implorar por mais alguns segundos, mas sabia que era em vão. Respirou fundo no pescoço dele, buscando o ar que havia se perdido enquanto corria para se livrar do estranho. Sentiu seu pulmão se encher novamente, e aos poucos foi se soltando do abraço que havia começado.

Encarou o rosto a sua frente enquanto apertava os dedinhos no braço do maior, como se assim pudesse mante-lo ali. Ele a olhou fundo nos olhos e (....)

Às vezes gosto de guardar os finais pra mim, até mesmo quando não são reais.

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