sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Embaixo do sol.

Quarta-Feira

Viajar pode ser algo bem divertido e, geralmente, o percurso de ida tende a ser mais engraçado e leve que a volta pra casa. Fazer as malas, escolher o que levar, admirar a paisagem enquanto o automóvel corre cada vez mais depressa, e pensar em todas as coisas que fará quando chegar ao seu destino final faz com que a ansiedade aumente, mas de uma forma boa.

E enquanto as minhas canções favoritas passam uma à uma na sequência da minha playlist, eu encaro com olhos atentos as árvores que ficam para trás. Não só elas, mas minha cidade, amigos e talvez qualquer resquisio de problema que estivesse em minha mente. Eu sei que é ilusório pensar que o fato de estar distante de todo o meu cotidiano irá realmente renovar meus pensamentos, e me fazer esquecer as coisas que ainda me assombram. Mas eu tento acreditar que, por alguns segundos, quando estiver olhando para o sol escaldante misturando-se com o azul das águas, eu irei conseguir essa façanha.

Depois de horas imóveis, sentada no banco traseiro, sinto o sono tomar conta do meu organismo cansado. Então, jogo minha coberta acinzentada pro lado e me recosto, tentando dormir um pouco.

- Vem mana, vou cantar Beatles pra você dormir - meu irmão diz, dando risada.
E começa a cantar alguma música que eu não posso identificar exatamente qual era, ou o que era.
- Pode parar, menino. Parece um cachorro uivando na minha orelha.
Nós rimos, e depois o silêncio se instala, deixando meus pensamentos vagarem, até que finalmente consigo cochilar por alguns minutos.

Quinta-Feira

Parecia que eu estava no litoral há anos. Mesmo tendo acabado de chegar, era essa a sensação que o hotel me causava. Totalmente privada de internet, apegando-me apenas a uma TV de 14 polegadas em um suporte no alto da parede. Faz tempos que eu não paro para assistir algum programa, novela, seriado, que fosse. Então, aproveito para recordar de algumas coisas. Enquanto isso, minha mãe reclama freneticamente sobre nossa falta de animo - minha e do meu irmão - para ir à praia e sair daquele quarto cheirando a mofo. Eu, com muito esforço, tento acompanhar meus pais em alguns passeios turísticos, mas meu irmão esta realmente interessado em dormir o tempo todo.
A noite, porém, a família toda ser reune para visitar uma das "feiras" da cidade. Eu me lembro dela. Na última vez que estivemos ali, minha tia havia comprado alguns objetos da minha banda favorita e me presenteado. Vou, mais que de pressa, procurar por essa loja. Um pequeno comodo, repleto de bugigangas, e com tonalidade escura. As paredes forradas de posters, e algum tipo de rock, metal, ou derivado, tocando ao fundo. Magnifico, penso. Nunca me assumi "rockeira", mas aprecio o gênero. Gosto mesmo é de pop, das batidas eletrônicas, e das vozes melódicas. Mas sempre soube reconhecer  o que é bom e, de fato, aquele lugar estava cheio de coisas interessantes. Compro alguns buttons e pronto: satisfeita.

Sexta-Feira

Minha cabeça doí e tudo em volta parece girar lentamente. As árvores passam pelo vidro do carro a medida que subímos a serra em busca de um lugar diferente. Sinto-me cansada, e o calor deixa meu corpo mole, como se a qualquer instante fosse ceder e se tornar inconsciente. Respiro fundo e abro a janela o máximo que posso, fazendo o vento chocar-se contra a minha pele, bagunçar o meu cabelo, e me dar uma incrível sensação de alivio.
Quando o carro para finalmente, estamos em uma trilha que depois de alguns minutos nos leva até uma pequena cachoeira, perdida no meio da mata. Desejo estar com roupa de banho para me jogar naquela água tão clarinha e doce, mas não estou. Então coloco meus pés na água e andei entre as pedras, observando os peixinhos nadarem de um lado ao outro. Se o paraíso existisse, talvez tivesse aquele formato, aquela tranquilidade, mas não aqueles mosquitos. Acordo, depois, pra realidade.

(...)
- Vou querer um suco de maracujá - peço ao moço que veio nos atender, na mesa que estamos, de frente ao mar.
- E um de açaí - diz meu irmão.
Depois de anotado nossos pedidos, esperamos pacientemente, encarando o bonito horizonte com suas nuances de cores.
Quando nosso querido garçom retorna com um semblante sem-graça, dizendo:
- Desculpa pessoal, mas o açaí acabou e nem me avisaram.
- Pode ser de abacaxi. Tem? - pergunta meu irmão.
- Suponho que sim.
E ele sai novamente de cena.
Dou uma risadinha e comento com meu irmão sobre a forma elegante do moço usar as palavras. Um ponto pra ele.
No fim, o suco de abacaxi era simplesmente divino. Uma bebida dos céus! Misturada com leite, geladinha, e tão leve quanto água. Ou seja, fico arrependida da minha escolha pelo maracujá. Claro!

Sábado

Escutar John Mayer em casa, geralmente me relaxa até o último fio de cabelo. E então, eu deixo escapar um suspiro de satisfação, pensando em como é possível existir uma combinação tão bem sucedida entre beleza, chame e talento. E por trás de todo aquele rostinho bonito, uma voz que é capaz de me causar os mais sinceros arrepios. Ele tem aquele algo mais, um encanto na maneira como faz as coisas acontecerem. Na mescla de romantismo com bad-boy, talvez.
Se escutar as canções desse americano quando estou em casa me faz tão bem assim, imagine de frente pro sol, aproveitando o litoral paulista. Elas parecem até mais tranquilas do que já são naturalmente, e quando "Free falling" começa a tocar, me pergunto sobre a inspiração que o levou a compor aquela música. Talvez estivesse em um campo verdinho, numa praia como essa,  na estrada, ou trancado em seu apartamento. De todo modo, aprecio mais uma vez seu talento, e me lembro das pessoas talentosas que eu conheço e admiro, a maioria delas tão longe, na minha cidade natal.

Sinto saudades do meu melhor amigo. Uma saudades incontrolável que me faz virar de um lado ao outro da cama, com o celular na mão, mandando torpedos aflitos. Queria que ele estive ali, queria poder dividir com ele cada segundo bom e tranquilo que pude aproveitar. E quando, de repente, o aparelho toca, eu atendo em uma velocidade fenomenal, deixando claro o quanto preciso ouvir a voz dele. As palavras são rápidas, o dialogo é curto, mas já me faz respirar um pouco melhor. Tê-lo comigo, de qualquer forma que seja, sempre me deixará mais segura e feliz, e nós sabemos disso.

Domingo

E todo o último dia deve ser aproveitado ao máximo, mas tudo que eu realmente desejo é que o tempo voe para estar de volta a minha casa. Praia é uma delicia, não discordo, mas continuo fiel a minha teoria de que após o segundo ou terceiro dia torna-se tediante, ainda mais sem seus amigos e o pessoal que gosta de agitar. Em todo caso, vale muito à pena cada segundo bem gasto ao lado de sua família que, infelizmente, passa tão pouco tempo unida dessa forma nos outros dias do ano. É bom que pelo menos por alguns deles, a gente possa rir e compartilhar assuntos e lugares diferentes.

Segunda

Por fim, lar doce lar.
E não há citação mais realista!

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