terça-feira, 24 de janeiro de 2012


Eu conheço um lugar...


Lá no alto, no fim da escada, quase na porta do camarim, acontecia algo tão simples e bonito, que meus olhos teimosos não conseguiram mais se fixar na apresentação logo a minha frente, no palco iluminado. Observar aquela garotinha subir os degraus, pulando de um à um, igual eu fazia quando era criança, prendeu mais a minha atenção do que o espetacular show da banda que não me lembro o nome. Tão pequena, com os cabelos escuros balançando a medida que o corpo impulsionava-se para cima, vestida com uma camiseta descolada, calça jeans, e um All Star nos pés que pisavam fortemente no chão a cada pulo que ela dava. Eu não sei dizer se a jovem que estava sentada no alto da escada era sua mãe, ou tinha algum parentesco com ela, mas observava a pequena assim como eu, com mais cautela no olhar, entretanto. Os meus olhos não estavam preocupados ou tentando cuidar dos passos daquela garotinha; eles só queriam contemplar a cena para que meu cérebro, mais uma vez, forma-se cenas que um dia talvez se tornassem reais. Havia também um garotinho, sentado no colo da jovem senhora, que parecia não ter mais que seus três anos de idade. Ela o segurava firmemente enquanto ambos assistiam ao show, mas ora ou outra, desviavam sua atenção para a pequena que continuava sua brincadeira de subir e descer os degraus.

Pisquei meus olhos lembrando da única vez em que meus saltos agulhas fizeram aquele mesmo percurso que a garota traçava. Recordava-me daquela ocasião com uma exatidão quase inacreditável, e senti saudades das palavras que um dia pronunciei sobre aquele lugar. Palavras que foram jogadas ao acaso, mas nunca deixaram de fazer sentido ou ter importância para mim. Eu sabia que, por alguma razão, os meus pequenos ainda estariam ali comigo. Vivendo aquela cena exatamente da maneira como eu a via. A pequenina, com seu vestido cor creme e o pingente dourado de guitarra, subindo e descendo aqueles degraus, e depois, quando sua atenção dispersa de criança lhe permitisse, ela observaria por alguns segundos o show e sorriria, orgulhosa. Enquanto isso, o pequeno garoto estaria seguro em um abraço caloroso, e poderia dormir com os solos de algum instrumento musical como canção de ninar. E ainda que não houvesse certezas sobre o amanhã, ali, naquele momento, tudo pareceu real. Refletido nos rostos daquelas duas crianças, eu enxerguei vocês.

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