quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

JP, 06.

Uma colherada cheia de sorvete de morango é levada a boca, e os olhos azulados fecham-se por um milésimo de segundo, e depois voltam a se encontrar com o castanho (mas não menos iluminado) dos meus. Abro um sorriso, desses que não se mostram os dentes, ainda assim verdadeiro e acolhedor.

- Ta gostoso, bebê?
- Uhum - ele responde em um murmurio, e eu sei que a pergunta não foi realmente necessária pois sua expressão revela o quão bom aquilo está. Sua mão pequenina brinca com a colher, empurrando e misturando a massa cor-de-rosa, e ele a encara com os pensamentos distantes.
Eu observo seus movimentos delicados, a forma como seu cabelo levemente encaracolado (agora mais curto) molda seu rosto, e o faz parecer um anjinho daqueles que ficam nas imagens de livros religiosos ou de desenhos animados. Não consigo evitar mais um sorriso, dessa vez maior e mais intenso.

- Você não cansa de ser lindo, né?
Ele desvia os olhos do pote cheio de sorvete e retribui o sorriso, tão constrangido e inocente como em todas as outras vezes que fiz a mesma pergunta.
- Não te incomoda, não? - Eu tento mais uma vez, achando divertida a forma como ele pensa e analisa a pergunta.
- Não, Lá... - responde por fim, tão sincero e conformado com aquilo que é. E leva mais uma colher à boca, e outra, e outra. Enquanto eu continuo mastigando vagarosamente o meu almoço, e refletindo sobre o quanto eu amo aquele pequenino, o quanto ele é valioso para nossa família. E ainda que os anos marquem seus traços tão jovens, ainda que não goste quando o chamo de "neném", que um dia não caiba mais no meu colo, ainda assim... Ele vai ser sempre o meu bebê.



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