domingo, 12 de fevereiro de 2012

Capricorniano da guarda.



Um, dois, três. Flash!

- Não ficou legal. Estamos muito distantes - ele observou a foto que acabara de tirar. Nossos rostos exibindo sorrisos tímidos, desajeitados, de certa forma, sem a intimidade que criamos depois. Nós dois sabíamos disso, mas queríamos que a fotografia parecesse o mais natural e amigável possível.

- Vem mais perto, pra parecer que somos amigos - ele disse com aquele tom sarcástico (que eu amei desde o começo), e eu dei risada, concordando. Não éramos amigos, e gostávamos - vai saber-se lá porque - de enfatizar isso a todo momento. Talvez por graça, por experimentar aos poucos aquela sensação de ir se aproximando, de ir "conhecendo" o território antes de colocar os dois pés.

- Você é muito alto. Eu sou muita baixa - afirmei o obvio, analisando as fotos já tiradas. Parecia que a gente não se encaixava naquela cena, apesar de achar bonito nossos rostos um ao lado do outro. Eu via sinceridade no olhar dele, ainda que o sorriso descordasse.

Mais uma, depois outra. E as imagens iam melhoram, criando formas, se encaixando há algo que começava a nascer ali, naquele corredor universitário. Mal dava pra acreditar. Por meses eu o havia observado. De longe, com cautela, sem saber o que dizer, que assunto puxar. Ele era quieto, sempre na dele, com mais dois amigos ao redor. Nossas conversas não passavam de assuntos ligados às aulas, às matérias do curso. Se é que poderíamos chamar algum daqueles diálogos de conversa, só duravam alguns segundos. Eu não sabia nada sobre sua personalidade, sobre as coisas que ele gostava e nem o porquê dele e dos amigos rirem e conversarem tanto durante as explicações de português. Era contraditório. Ele parecia gostar de falar, mas não se aproximava de ninguém, nem puxava assunto. Se o menino loiro e a garota estilosa não estivessem por perto, ele ficava sozinho mesmo, e não parecia se incomodar com isso. E eram nesses momentos que eu sentia mais vontade de chegar ao seu lado e dizer um "oi, tudo bem?", mas me parecia loucura. Maldita timidez que consumia.

Existiam tantas pessoas naquela sala, tantas características marcantes e distintas, e nenhuma delas me chamava mais atenção do que àquele garoto. Ele possuía um certo tipo de segurança no jeito de se movimentar que me cativava. Parecia tão auto-suficiente, como se seu próprio mundo bastasse. Talvez eu me identificasse com o que via, porque apesar de ter mudado bastante durante os anos, nunca gostei de muita gente, de muito amor forçado, de sorrisos plastificados. E eu sabia que ele também não gostava. Compreendia isso sem ele nunca ter dito, só de observar. Eu também sabia que tínhamos tanto em comum, mesmo que isso ainda não tivesse sido revelado. Questão de tempo, eu pensava. No fundo, eu acreditava que um dia, mesmo que demorasse, nós estaríamos andando pelos corredores e contando segredos um para o outro. Pra mim, não bastava dizer "ele é um menino da minha sala...", eu queria mesmo era chamá-lo de amigo.

Mas acho que acabei ganhando bem mais.

Outro Flash! (Eu já disse que ele é bom com isso?)

- Anjo, gostei dessa!

E depois de tudo, eu tinha um novo anjo da guarda.


Um comentário:

Patrícia Melo disse...

Eu sinto isso com relação ao meu namorado... hm