domingo, 5 de fevereiro de 2012

You can't save me...

Assim que suas mãos tocaram naquela substancia - ainda - ilícita, meus olhos antes distraídos congelaram-se por uns cinco segundos sobre a cena. Seus dedos apertando levemente o material enquanto trazia-o para mais perto dos lábios secos. Respirei fundo, fundo mesmo, contando até cem mentalmente para não levantar do sofá e correr a seu alcance, tirando aquilo da sua frente. Jogando longe, pisando em cima como quem deseja esmagar um inseto asqueroso e nojento. E quanto mais eu puxava o ar para me acalmar, mais doía ver você tragar aquilo. Era inútil dizer algo, e eu não o faria. Então fechei os olhos com força, memorizando o rosto de cada pessoa a sua volta, ainda que isso não servisse pra nada. Era obvio que nenhuma delas se importava com você, era nítido que a sua dor e suas tentativas de fuga não causariam a comoção de nenhum deles, e tão pouco te dariam um ombro amigo no seu pior momento de desespero. Mas eles estavam ali, estendendo-lhe a mão, com aquela ilusão de felicidade que passava de boca à boca. Com certeza, tão carregados de angustias quanto você. Sei que muitos deles não tinham problemas tão drásticos assim, mas também sei que não é necessário existir uma tragédia em sua vida para se sentir vulnerável e desprotegido. Às vezes, as pessoas sentem-se mal sem um motivo realmente importante, às vezes deixam o vazio tomar conta. E então elas fogem igual você fugia, mas eu sei que em sua mente existiam milhares de razões para se sentir tão infeliz. E isso doía em mim porque eu queria poder mudar essa realidade. Porque nos seus lábios deveria existir um sorriso sincero, e nada além disso. Eu devo ter contado mais uns cem números mentalmente pra não lhe puxar pelo braço,e te abraçar apertado, dizendo que tudo ficaria bem. Não perfeito, apenas bem. Afinal, ninguém precisa de perfeição. A vida não é assim, e eu quis que compreendesse isso. Eu senti dó de muitos ali, exceto de você. Por você eu sentia outra coisa... Era afeição, vontade de proteger, vontade de ensinar e ajudar a ser forte. Mas força foi algo que eu adquiri para não fazer nada, pra não me manifestar, nem dar opiniões. Porque só você poderia decidir sobre sua própria vida.

Nenhum comentário: