terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Eu vejo sombras do que costumávamos ser.

Pierre e David se conheceram ainda crianças, em uma tarde de outono, em um parque próximo a casa de Pierre. Enquanto ele brincava sozinho na caixa de areia, escutou um choro abafado, e intrigado, começou a procurar de onde vinha o som. Olhou em volta, deparando-se com um garotinho caído na frente ao balanço a alguns metros de onde estava.
O menino era visivelmente menor que ele, e tinha cabelos negros que se destacavam na pele branca e alva. Pierre sentiu pena, seu coração se apertou. Sempre fora uma criança corajosa e disposta a ajudar seus amiguinhos, então viu naquele momento uma oportunidade de salvar alguém assim como seus super heróis faziam. Sorrio com a idéia e correu depressa até o garoto. Agachou-se à sua frente, conseguindo ver claramente seus olhos. Eram claros, cor de mel, entretanto, não tinham o brilho que Pierre supôs que teriam, estavam apenas banhados em lágrimas, levemente avermelhados.
Pierre, em sua plena inocência, passou os dedos longos pela bochecha do menor, secando algumas gotinhas presentes ali. O pequeno o encarou, apreensivo. Não ousou se mover, nem abrir os lábios. Estava assustado demais para o fazê-lo. Mas sabia que estava causando certo temor ao garoto. Eles nem ao menos se conheciam. E o maior não queria causar-lhe nenhuma sensação ruim, pelo contrário, queria lhe ajudar, lhe acalmar, e quem sabe, ser seu mais novo amigo. Então, resolveu quebrar o silêncio após passarem alguns segundos apenas encarando-se.

- Está tudo bem com você?

- É claro que não! – resmungou David, olhando para as mãozinhas sujas de areia.

Não havia ferimentos. Não que Pierre pudesse ver, ao menos. Mas ainda assim, continuo preocupado com o pequeno.

- Você... – hesitou, com a sensação de estar aborrecendo o outro, que parecia estar realmente incomodado com aquela situação.

David, entretanto, estava gostando da atenção que o maior lhe dedicava naquele instante. Pierre não sabia, mas ele sempre fora um garoto carente, e nunca tivera muitos amigos que pudessem consolá-lo ou, simplesmente, para conversarem com ele.

- O que você ia me perguntar? – questionou ele, dessa vez encarando o moreno nos olhos. Apesar de mostrar frieza nas palavras, ele desejava – ainda que inconscientemente - que o outro continuasse ali.

- Quero saber se dói alguma coisa... – observou um pouco mais o menor, não encontrando nenhum arranhão ou marcas arroxeadas.
- Dói! – David disse em um tom mais alto – Você não viu que eu cai? É claro que dói! – e um bico se formou em seus lábios, fazendo Pierre ter uma súbita vontade de rir da forma infantil e dramática como o novo ‘amigo’ se portava.

Ele era um pouco menor, e Pierre supôs que tivesse um ou dois anos a menos que ele, o que daria ao garoto uns oito anos, e isso parecia idade o suficiente para não se portar daquela maneira. Afinal, o maior não agiria assim. Mas ele compreendeu, em poucos segundos, que o outro era visivelmente mais sensível e irritado, e isso, por incrível que pareça, não o fez ter vontade de se afastar, e sim de conhecer melhor aquele menino.

(...)

Ps: Escrevi isso em Julho de 2010, em uma época onde minhas histórias se resumiam a HB. Esse casal - apesar de fictício - foi e sempre será um dos meus favoritos. E tudo que eu sei hoje, e se eu amo escrever e inventar histórias, eu devo de certa forma àqueles tempos. Pierre e David foram a melhor "mentirinha" a qual minha mente já acreditou. Sinto saudades de escrever e ler sobre eles. Sinto saudades das minhas fics favoritas, e daquelas grandes autoras - que ninguém conhece - mas eu sei o quanto eram boas, e o quanto seus romances me ensinaram sobre o amor, a amizade, as sensações bonitas, e a fazer descrições que arrancam o fôlego.


Pierre e David, Simple Plan.

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