quinta-feira, 10 de maio de 2012

Muitos motivos para gostar desse lugar.

- Você não pode entrar sem uniforme! - diz a mulher da recepção. Ela não é a mesma que existia ali na minha época. Na verdade, na minha época era um homem. Eu nunca a vi antes, e pelo seu jeito autoritário de falar e suas expressões fortes - quase masculinas - eu poderia jurar que ela foi policial antes de trabalhar ali, ou pelo menos quis ser.
- O quê? - pergunto realmente sem entender. Nunca me barraram na entrada daquele lugar, e muito menos me olharam de um jeito tão desconfiado como ela fazia agora. Como se eu estivesse escondendo uma bomba dentro da mochila, ou uma faca no bolso direito. Olha pra mim. Uma garota mais baixa do que a maioria das meninas que estudam ali, e com o sorriso mais doce do mundo. O que eu poderia fazer afinal? Tudo bem. Eu sei que as aparências podem mesmo enganar, mas eu estou longe de parecer ameaçadora.
- Você só pode entrar se estiver de uniforme. Ou, assine essa lista com seu nome e sua classe - explica ela.
- Eu não estudo aqui. Quer dizer, estudei, mas faz tempo.
- Vou anotar seu nome nessa folha, então.
Eu o digo à ela, e abro um sorriso dócil, o que não faz mudar a expressão rude em seu rosto. Entendo, por fim, que toda essa burocracia se trata de uma nova exigência da escola, provavelmente para controlar a entrada e saída de alunos que a frequentam pela tarde. Até acho a regra bem elaborada, mas não consigo esquecer o olhar frio da mulher enquanto dou largos passos pelos corredores que conheço com a palma da mão.

Acompanho minha prima até seu grupo, com o qual ela fará algum trabalho de português, e depois caminho até um dos "murinhos" que cercam os gramados. Eles costumavam ser um dos meus lugares favoritos na hora do intervalo, e uma pontada de saudades me invade o peito. Tento afastar essas memórias abrindo o livro que tenho em mãos. Estou quase na metade, e a história tem ficado cada vez mais interessante. Consigo ler três ou quatro páginas e sou interrompida por uma algazarra ao redor. As crianças da, não sei, provavelmente da primeira ou segunda série, brincam ao meu redor. Levanto os olhos para encarar dois meninos que passam dividindo seus lanches, enquanto uma garotinha vem atrás pedindo um pedaço. Eles falam alto e se mexem rapidamente, e quando me dou conta já perdi o foco da leitura. Então desisto de ler, e fico observando tudo. Afinal, se tem algo que eu gosto tanto quanto  ler, é observar.

No chão, as pequenas folhas das dezenas de árvores que existem ali, formam um manto esverdeado. Misturam-se em tons de amarelo, verde, laranja. E são tão minúsculas que não devem medir mais que um centímetro, eu presumo. Seguro uma delas com a ponta dos dedos, pensando em quanto tempo já se passou. Estamos quase no inverno, e essa estação era a mais sofrida pra acordar cedo e ir a escola, mas também a que gerava lembranças mais gostosas e divertidas. Lembranças que voltam, sem pedir permissão alguma. Também, como não voltar estando nesse lugar? A visão fica embaçada, e lá estou... É fim de outono, em 2010.

- Dá seu nome, amiga! Se a intercambiaria ficar na sua casa, eu e Nick ajudamos com as coisas. Posso passar as tardes com vocês, e você já vai se preparando pra quando for a sua vez de ir embora - digo à Júlia, com o pescoço virado para olha-lá na carteira de trás.
- Eu... não sei. Preciso ver lá em casa - responde.
Nicollas se aproxima, em pé, ao meu lado.
- Na minha ela não pode ficar... Mas, tem razão - ele olha pra mim - Vai ser uma boa se ela ficar hospedada com a família da Júlia. Vai ser bom pra ela melhorar o inglês.
Balançamos a cabeça e começamos a planejar lugares para leva-lá (caso ela fiquei mesmo conosco). A cidade é tão pequena mas, de repente, surgem milhares de possibilidades e coisas que queremos apresentar para uma - ainda - desconhecida. 

Pisco meus olhos, enxergando algumas pessoas por perto, mas as crianças já entraram nas salas. A folha ainda está prensada entre meu polegar e indicador, mostrando-me que não sai do lugar, só viajei um pouquinho no tempo. Aperto-a, depois jogo-a de lado. Suspiro cheia de saudades. Penso em tudo que tenho agora, em todas as pessoas que conheci depois daquilo, em tudo que vivi... E me sinto afortunada. Rica em tantos sentidos. Mas rica também em saudades... Não sei viver sem senti-lá. Não sei viver sem lembrar. Não sei viver sem esses momentos aonde eu posso voltar anos e anos atrás.

Abro meu livro novamente, tentando focar minha total atenção. A história é contada por um velho senhor que relembra seu passado glorioso, e vai descrevendo-o. Penso, repenso, e torno a pensar. Quem sabe, um dia, eu não transformo todas as minhas memórias adocicadas em algo assim?



5 comentários:

Nina disse...

Adorei o seu Blog e já estou seguindo, gostaria muito de te ver no meu cantinho
http://ninateinforma.blogspot.com.br/ ... me segue pls *o*. E participe do sorteio!
Bjokas da ♥♫Nina ♥♫
@ninateinforma
http://ninateinforma.blogspot.com.br

Lorena Flor disse...

texto lindoooo! vou começar a colocar alguns nos meus posts =)
beijo ;*

http://lorena-flor.blogspot.com.br/

Valquíria Novaes disse...

Tempos malucos de escola, se tem uma coisa que eu não sinto é saudade kkkkkkkkkkk
Bjos!
amonailart.blogspot.com

Jhessy disse...

-'Oi linda. Volte sempre.
Obg pela visita.

To te seguindo também!
Beeijinhos.

Paula disse...

Adorei o texto, estou seguindo e curtindo seu blog c:
Beijos Lynda
Cerejas Atrevidas