quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Nós tínhamos apenas 17 anos.


Andávamos pela rua da minha avó, em tardes tão quentes quanto o centro da Terra. Deixávamos para trás nossas risadas e canções, que eram substituídas de minuto a minuto, e acabavam tornando-se trilha-sonora dos nossos percursos. Eu ainda consigo lembrar do brilho castanho escuro que seus olhos possuíam quando esbarravam, de propósito, com os meus. Olhava-me de relance, e pedia para que eu caminhasse um pouco mais rápido. (...) Dizia a lenda que aquela vizinhança, apesar de calma, tinha lá seus problemas. Alguns boatos sobre tráfico e prostituição. Ah, minha nossa! Ainda bem que eu tinha você... Nunca precisei andar por aquele bairro sozinha, com medo de puxarem minha bolsa e levarem meu velho celular cor-de-rosa. Eu era a princesinha indefesa, e você, mesmo sem cavalo branco, era meu príncipe encantado. Não que eu acreditasse em conto de fadas, mas se adaptássemos todos eles à sociedade do século XXI, sei que chegariam perto do que nós éramos. Em você, eu encontrava todas as formas de proteção, de carinho, de felicidade, e claro, de amor. Nós éramos cúmplices dos zeros em matemática, aliados para escrever mensagens divertidas na lousa quando ninguém estivesse por perto, irmãos que dividiam conselhos, amantes que nunca se beijaram, amigos que trocavam confidencias. "Nunca esconda nada de mim. Porque eu sou você, e o que eu sei, você também precisa saber", era isso, não era? Acho que sempre foi. Ou era pra ser. Às vezes penso que se perdeu. No tempo. Em algum lugar onde eu não consigo voltar pra resgatar. Se me pedissem todo o dinheiro do mundo para ter aquele garoto de volta, ah Deus, eu arrumaria um jeito de pagar qualquer quantia. Peçam-me o resgate! Eu juro que dou um jeito... Não tenho nem pra pagar o passeio de sábado a noite, mas dou um jeito. Faço qualquer coisa por ele. Por nós. Por tudo que um dia fomos, quisemos ser, prometemos ser. "Ei alma gêmea, eu não quero perder nada que você faça...", dizia a canção. E agora eu peço: não deixe sua luz apagar, meu garoto, porque se isso acontecer, a minha brilhará mais fosca. Hoje, com a maturidade de poucos anos a mais, eu sei que não somos um único ser, como dizíamos ser. Você é você. Eu sou eu. Obvio. Sobrevivemos um sem o outro, mas acredite, é como canção sem refrão. Não quero nem pensar em cantar algo assim. Então, faça-me uma nova promessa. Diz pra mim que vai colocar aquele sorriso de onze anos no rosto e esquecer tudo que não é bom, tudo que degenera seu coração. Pare de envenenar sua alma, doce amigo. Pare já com isso! Arrume um antídoto pra sua dor. Se quiser emprestada minha força, pode pegar pra você. (...) Só não deixe minha alma sem par.



8 comentários:

alinisaab disse...

Divino.

su disse...

que texto lidinho
e,menina, como 'cê deixou a sua alma gêmea escapar? :O
Emilie Escreve~

chris disse...

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Nina disse...

Todos pretendemos ter um coração resgatado. Como faz falta isso.
Abraços.

Manuelly disse...

Nossa que historia linda, pena que é triste.
Ela é tão bela que poderia ter um final feliz, vai atras dele vai.

beijos!
Seguindo!!


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Munique disse...

Tão pura e inocente essa história... Linda!

O Profeta disse...

De folhas de Outono se coroa uma tonta
Lancei pedras sobre as ondas furiosas
Teimosamente arde neste peito uma raiva
E vi muito lixo num covil de raposas

As coisas que um poeta vê
As coisas que que invadem uma alma demente
Num silencio contaminador, estonteante
Ouvi palavras de amargo presente

Cheguei finalmente a uma certa praia
Fiquei encoberto por uma mancha de gaivotas
Na impressionante fachada da minha alma
Fecham-se com estrondo todas as portas


Doce beijo

Anônimo disse...

Vengo del blog naturalloriginn y me ha encantado tu blog; por lo cual, si no te importa, me gustaría ser Seguidor de tan bello Espacio, lleno de Magia y Hechizo...y buen gusto.
Un abrazo.