Existe um silêncio constrangedor nos cercando naquela noite. Imagino que grande parte seja efeito da minha briga com Raíssa. E a outra, talvez pela nova matéria que o professor tenta explicar para meia dúzia de alunos interessados. E ainda que ele possua certo empenho e carisma, não consigo me concentrar como deveria.
Meus olhos encaram Danilo, que diferente de mim, parece totalmente concentrado na tela a sua frente, absorvendo todas as informações sobre como programar as postagens em redes sociais. Penso no quanto isso será útil, concluindo que ainda sei muito pouco sobre o assunto. No entanto, estou mais preocupada com o encontro que tenho marcado para aquela noite.
- Você sabe que vou precisar de alguns minutos lá fora, não é? - digo à Danilo, tirando sua atenção do computador.
- Te dou dez minutos - ele diz sério.
- Espero que seja suficiente.
- Tem que ser, Sophia - ele fita meus olhos - Na verdade, você nem deveria ir - completa.
- Não estou realmente animada, mas... - dou de ombros.
- Vem, escuta isso aqui. - Ele me entrega um dos fones de ouvido, e nesse momento, já estamos desfocados o suficiente da aula, então aceito sem hesitar.
- A nova trilha sonora do grupo! - Constato, eufórica.
Ele sorri e afasta o corpo para mostrar um pedaço do vídeo no youtube.
- Nossa! Ele é lindo demais! - Danilo comenta sobre o cantor da música.
- E nós temos definitivamente o mesmo gosto para homens - digo dando uma risadinha. - Agora eu preciso ir, okay? Deseje-me sorte - assopro um beijo para ele e caminho em passos rápidos até a porta.
Ao longo das escadarias, sozinha, permito-me pensar no quanto precisaria das palavras de Raíssa naquele momento. Ela tem sido minha fiel amiga há um bom tempo e, de repente, sinto que a opinião dela sobre este encontro seria bem necessária. Afinal, existe uma tremenda confusão na minha cabeça, e metade de mim deseja fazer o caminho contrário e voltar para a sala.

Ele me liga e sigo meu caminho até o local combinado. Quando finalmente o alcanço, apresso meus passos e o recebo em um abraço amigável. Naquele segundo percebo que não o encontrei. Pelo menos não aquilo que eu pensava estar procurando. Dou-me conta de que meu corpo está ali, inquieto, abrindo sorrisos forçados, enquanto meu coração se escondeu em algum outro canto. E minha mente, coitada, implora para que eu volte lá pra cima e cante mais algumas canções com Danilo, ou, simplesmente preste atenção na aula.
- Preciso ir - digo para o jovem, tentando a qualquer custo me afastar.
- Não... Fica mais um pouco... - Ele suplica e se aproxima. Próximo demais. Posso sentir seu coração pulsando disparado enquanto o meu parece ter congelado, apenas.
Tento me esquivar, pegando o celular e colocando-o diante do meu rosto como se tivesse algo interessante nele.
- Estou atrasada. É sério. - Faço o tom de voz mais preocupado que consigo.
Ele reluta em me soltar do abraço e, conforme o tempo passa, o ar ao meu redor parece ir diminuindo consideravelmente. Respiro fundo em uma tentativa de me recompor. E apesar do garoto passar uma boa imagem, ser atencioso e simpático, entendo que aquilo está longe de ser o suficiente. Que o problema não é ele, nem eu, nem ninguém. É só que... nossos corações não estão batendo no mesmo ritmo.
E talvez poucos saibam o que é o amor. Mas aquela sensação, jamais seria.
E talvez poucos saibam o que é o amor. Mas aquela sensação, jamais seria.
Um comentário:
Pequenina. Desisti do amor por um espaço indeterminado de tempo. Esse seu texto me manda há uns seis ou sete anos atrás. Quanta vida que se foi! O amor mais puro, acredito ser o nosso próprio.
Que texto intrigante e perturbador! Parabéns.
Julian Machado.
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