segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O que é, nós não sabemos.

          Existe um silêncio constrangedor nos cercando naquela noite. Imagino que grande parte seja efeito da minha briga com Raíssa. E a outra, talvez pela nova matéria que o professor tenta explicar para meia dúzia de alunos interessados. E ainda que ele possua certo empenho e carisma, não consigo me concentrar como deveria.

             Meus olhos encaram Danilo, que diferente de mim, parece totalmente concentrado na tela a sua frente, absorvendo todas as informações sobre como programar as postagens em redes sociais. Penso no quanto isso será útil, concluindo que ainda sei muito pouco sobre o assunto. No entanto, estou mais preocupada com o encontro que tenho marcado para aquela noite.

- Você sabe que vou precisar de alguns minutos lá fora, não é? - digo à Danilo, tirando sua atenção do computador.
- Te dou dez minutos - ele diz sério.
- Espero que seja suficiente.
- Tem que ser, Sophia - ele fita meus olhos - Na verdade, você nem deveria ir - completa.
- Não estou realmente animada, mas... - dou de ombros.
- Vem, escuta isso aqui. - Ele me entrega um dos fones de ouvido, e nesse momento, já estamos desfocados o suficiente da aula, então aceito sem hesitar.

''Você pode sentir meu coração?
Eu posso sentir a sua velocidade.
Mais rápido a cada segundo;
Dançando ao ritmo.
Que é o amor? Ninguém sabe...''



- A nova trilha sonora do grupo! - Constato, eufórica.
           Ele sorri e afasta o corpo para mostrar um pedaço do vídeo no youtube.
- Nossa! Ele é lindo demais! - Danilo comenta sobre o cantor da música.
- E nós temos definitivamente o mesmo gosto para homens - digo dando uma risadinha. - Agora eu preciso ir, okay? Deseje-me sorte - assopro um beijo para ele e caminho em passos rápidos até a porta.

          Ao longo das escadarias, sozinha, permito-me pensar no quanto precisaria das palavras de Raíssa naquele momento. Ela tem sido minha fiel amiga há um bom tempo e, de repente, sinto que a opinião dela sobre este encontro seria bem necessária. Afinal, existe uma tremenda confusão na minha cabeça, e metade de mim deseja fazer o caminho contrário e voltar para a sala.

            Metade de mim não está nenhum pingo interessada em tentar novamente encontrar o amor. Metade de mim já sabe que ele não está ali, impregnado naquele garoto que espera para me ver. Mas então, existe uma outra metade que me diz algo como "respira fundo e vai", e é isso que eu acabo fazendo no final das contas. Totalmente incerta, com os olhos pregados no chão e a luz da lua sob meus pensamentos confusos.

            Ele me liga e sigo meu caminho até o local combinado. Quando finalmente o alcanço, apresso meus passos e o recebo em um abraço amigável. Naquele segundo percebo que não o encontrei. Pelo menos não aquilo que eu pensava estar procurando. Dou-me conta de que meu corpo está ali, inquieto, abrindo sorrisos forçados, enquanto meu coração se escondeu em algum outro canto. E minha mente, coitada, implora para que eu volte lá pra cima e cante mais algumas canções com Danilo, ou, simplesmente preste atenção na aula.

- Preciso ir - digo para o jovem, tentando a qualquer custo me afastar.
- Não... Fica mais um pouco... - Ele suplica e se aproxima. Próximo demais. Posso sentir seu coração pulsando disparado enquanto o meu parece ter congelado, apenas.
        Tento me esquivar, pegando o celular e colocando-o diante do meu rosto como se tivesse algo interessante nele.
- Estou atrasada. É sério. - Faço o tom de voz mais preocupado que consigo.
          Ele reluta em me soltar do abraço e, conforme o tempo passa, o ar ao meu redor parece ir diminuindo consideravelmente. Respiro fundo em uma tentativa de me recompor. E apesar do garoto passar uma boa imagem, ser atencioso e simpático, entendo que aquilo está longe de ser o suficiente. Que o problema não é ele, nem eu, nem ninguém. É só que... nossos corações não estão batendo no mesmo ritmo.

E talvez poucos saibam o que é o amor. Mas aquela sensação, jamais seria.


Um comentário:

Julian Machado disse...

Pequenina. Desisti do amor por um espaço indeterminado de tempo. Esse seu texto me manda há uns seis ou sete anos atrás. Quanta vida que se foi! O amor mais puro, acredito ser o nosso próprio.
Que texto intrigante e perturbador! Parabéns.

Julian Machado.