quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Tudo que eu amo e estou dizendo adeus.


       Em uma manhã melancólica de Dezembro, ela desabou o corpo pequeno sob a cama e, segurando o travesseiro contra o peito, iniciou um choro silencioso e prolongado. Os olhos piscando, as gotas escorrendo, e o coraçãozinho de criança apertado, lidando pela primeira vez com a dor de uma despedida. 

          Ainda era muito cedo para entender o que provavelmente ela nunca conseguirá, mesmo que ao longo da vida se acostume com esse tipo de situação. Os próximos anos lhe darão varias maneiras de lidar com o adeus, alguns definitivos, outros mais fáceis ou por um período menor de tempo. Mas todos eles, sem dúvidas, estarão repletos de um sentimento intenso, e ela vai aprender que não consegue sentir pouco, que não consegue se entregar aos momentos e as pessoas pela metade.

          Com doze anos ela vai descobrir que está proibida de andar com sua melhor amiga e isso vai lhe custar algumas folhas cheias de textos inconformados. Com treze, ela descobrirá que o garoto bonitinho por quem se apaixonou brevemente, não é tão real igual imaginou. Aos 17 vai compreender o que é um oceano de distância e, depois disso, só Deus sabe por quantos amores irá chorar.

          Eu sei, mas ela ainda não. E nem precisa se preocupar agora. Em alguns minutos seu pai entrará pela porta e perguntará o porquê das lágrimas. Ela esconderá o rosto meio sem graça, vai respirar profundamente e então irá confessar que sente falta dos amigos da escola. Que ela nunca mais será tão feliz igual foi naquele lugar.

         Ele então passará a mão nas finas mechas de cabelo da filha, e com cautela, explicará que ao longo do caminho muitas pessoas especiais irão aparecer em sua vida. Que ela sempre vai carregar as boas memórias das que já partiram, mas que outras também trarão momentos incríveis.

        Um pequeno sorriso, teimoso e desconfiado, irá surgir nos lábios da garota, que com a voz embargada pelo choro, dirá:

- Não, pai. Eu quero estes amigos. Eu nunca terei amigos melhores. Nunca.

         E aquelas palavras serão ditas com tanta convicção, que eu jamais ousaria dizer que ela estava errada.

          Mas estava.

       Aos 19, ela encontrará três pessoas que farão sua vida mudar completamente. Estes três irão preencher seu coração de tal forma que todas as músicas se tornarão trilhas sonoras, todas as noites serão de verão, quentes e acolhedoras. O lanche terá mais sabor quando compartilhado. Os segredos serão divididos por olhares, e os sorrisos, serão inquilinos fixos dos lábios.

         Então, quando ela finalmente tiver que deixa-los ir, vai se dar conta de que não importa quanto tempo passe ou o quanto a vida ensine, não existe um manual que nos torne expert para lidar com despedidas. E na escuridão do quarto, seus pensamentos tornarão-se um doloroso dejá-vu:

"Eu nunca terei amigos melhores. Nunca."


2 comentários:

G.Simpson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
G.Simpson disse...

Você ainda escreve lindamente. Acho que fazia anos que eu não entrava em seu blog, vim na esperança de saber como está e descobrir se continua com o seus sonhos. Fico feliz em ver tudo isso.

Ainda aguardo o seu livro.