quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Leve-me de volta ao paraíso de verão.

       (Trilha sonora)   

          Os raios de sol colidiam com nossas peles com tamanha intensidade e ardor, que embora eu não me lembre em qual dia da semana estávamos, tenho certeza de que era verão.
          Desde cedo, às sete da manhã, já sentíamos as roupas colarem no corpo em uma atração quase magnética. Mas naquele dia, além das gotinhas de suor que se formavam na dobra do pescoço, existia também uma densa camada de protetor solar cobrindo nossos ombros e rostos, para que mais tarde nossas peles não estivessem descamando ou ardendo em dolorosas queimaduras.
          O ônibus, parado em frente ao portão, atiçava ainda mais os ânimos das crianças, já eufóricas pois aquela era a primeira vez que levaríamos-nas em um clube aquático. Todas, estampando grandes sorrisos, carregavam nas mãos uma mochila com seus pertences pessoais, toalhas, trocas de roupa, e uma infinidade de bugigangas que talvez nem fossem usadas.
          Minha colega de trabalho segurava uma pasta contendo exames médicos e, enquanto ela terminava de organizar os papéis, auxiliei as crianças para se acomodarem em seus respectivos lugares dentro do ônibus. Depois que todos assumiram seus postos, algumas canções à capela começaram a se desenrolar, altas e eufóricas, expressando a vitalidade dos pequenos. Tinha funk e cantigas da última novela que o SBT exibia. Nós ríamos, cantávamos, e fazíamos uma porção de planos para tudo que aconteceria nos minutos seguintes, esperançosos de aquele fosse um dos dias mais divertidos da estação.
           E então o barulho do motor adormeceu e parou, indicando que tínhamos, finalmente, chegado a nosso destino. As últimas exigências foram repassadas às crianças, que de tão ansiosas, já mal prestavam atenção no que dizíamos. Contudo, desceram em uma perfeita fila indiana, tentando controlar o volume das vozes inquietas, que contavam sobre as coisas observadas ao redor.
          Como já estavam com trajes de banho por baixo das roupas, assim que chegamos no saguão que saía para a piscina, todas elas tiraram e guardaram suas vestes nas mochilas, deixando-as sobre o balcão existente ali, exatamente como eu e minha colega fizemos. Demos uma alta risada, envergonhadas com o fato de aparecermos de shortinho pela primeira vez na frente das crianças, mas, elas não pareceram notar nosso constrangimento, ou, talvez estivessem entretidas demais com a água à nossa frente.
          Com cuidado, levamos todas para a beira da piscina menor. As crianças maiores entraram primeiro, mostrando que água batia na altura do joelho, em seguida, colocamos as pequenas, com a água batendo na cintura ou barriga de cada uma delas. A bola que levamos também entrou na água e, de mão em mão foi passando, dando início a uma brincadeira divertida, que depois foi substituída por uma guerrinha de água e várias outras brincadeiras.
          Até que em determinado momento liberaram a piscina maior para que pudéssemos entrar. Certificamos que dava pé para as crianças grandes, e as pequenas, nós seguramos (já que não eram muitas). Nessa piscina todos pareciam estar se divertindo bem mais, já que até tirolesa tinha. Minha colega foi na frente, descendo antes das crianças, e todas vibraram assim que ela caiu na água. Depois, em sequência, todas as crianças maiores começaram a descer também. Eu não pretendia encostar naquele brinquedo, porque altura sempre foi meu ponto fraco. Mas, depois de tanta suplica e insistência, resolvi lidar com o medo e desci só pra ver as crianças vibrarem novamente.
          "Agora sim! As duas professoras desceram!", ouvi o salva-vidas dizer, no embalado dos pequenos que aplaudiam e davam risada.
                Mas o tempo se esgotou, e escondendo os sorrisos, saímos da água, exaustos e desejando que aquela manhã durasse bem mais. Pegamos as toalhas, nos enxugamos, trocamos de roupa e, então, caminhamos em direção ao ônibus, ouvindo as crianças suspirarem de cansaço e pedirem por mais dias como aquele. Tivemos vontade de prometer que voltaríamos, mas, para criança nunca se promete o que não se tem certeza. Então, apenas sorrimos, dizendo que ficaríamos muito felizes se, um dia, pudêssemos compartilhar o melhor dia do verão com elas novamente.



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