sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O relógio no pulso esquerdo de Ryan marcava 21:25 assim que ele estacionou seu carro na frente da casa de Julie. Ótimo, pensou ele, chegara cinco minutos antes do combinado. O clima, porém, parecia mais frio do que nas outras noites do mês, e a brisa passou cortante pelo vidro do automóvel, chocando-se contra a pele alva de seu rosto. Sentiu-se estremecer, então, lembrou que seu casaco sempre ficava no carro, assim como outras peças de roupas entre outros pertences. Ryan, definitivamente, não era o cara mais organizado do mundo, mas ele próprio não se importava, tinha outras qualidades para explorar. Jogou seu braço para trás, tateando tudo que fosse possível, até sentir o couro da jaqueta em suas mãos. Puxou-a para frente, e um segundo depois, seu corpo já se encontrava aquecido o suficiente pra esperar Julie.

No rádio tocava uma das canções favoritas de Ryan, de uma banda chamada "the afters", que havia conhecido anos antes em um seriado de TV. A melodia era agradável e o mantinha distraído enquanto acompanhava a batida com o pé direito, em um ritmo frenético.

Mais alguns minutos, e pode ver Julie saindo pela porta da frente, exatamente às 9:45, quinze minutos depois do horário marcado. Mas Ryan ignorou o atraso. Ao ver sua pequena, ele podia entender o porquê da demora. Os cabelos claros caiam em forma de cachos sobre os ombros expostos da garota, enquanto um sorriso se abriu nos lábios levemente vermelhos da loira assim que seus olhos se encontraram. Ela andou depressa, fazendo com que seu vestido florido que cobria até suas coxas, dançassem no ritmo da brisa fria. Veio até seu encontro sem tirar o sorriso dos lábios, abrindo a porta do automóvel e sentando-se ao lado do maior.

- Desculpe o atraso, querido - esticou-se na direção de Ryan, beijando-lhe a boca. Em seguida, puxou o cinto, certificando-se que este estava bem preso - Sabe como é, exagerei um pouco no banho - Ryan riu, concordando com a cabeça. Era possível sentir o aroma do cabelo de Julie a distancia, uma mistura de frutas com mais alguma coisa que ele não conseguia identificar. Não era bom com coisas femininas e isso era óbvio, mas apreciava o cuidado que a pequena tinha ao se arrumar. Enquanto a observava, se considerava um cara de sorte. De muita sorte.

Ligou o veiculo, dirigindo devagar pelo bairro. Na verdade, não estava com pressa. Nenhum dos dois estavam. Quanto mais tarde fosse, melhor seria a vista, e eles sabiam disso. Os olhos castanhos-esverdeados de Julie mais pareciam duas jóias raras, iluminando-se com as luzes da cidade. Ela adorava apreciar a paisagem que ia ficando para trás enquanto o vento brincava entre as mexas de seus cabelos.

- É tão bom... - sorriu e encarou o rosto do maior que virou-se para ela por alguns segundos, tomando cuidado para não se distrair da direção.
- Já estamos chegando, anjo - Ryan colocou a mão direita em cima da coxa de Julie, e ela a segurou com a sua, sem tirar o sorriso dos lábios. Trouxe-a para perto de seus lábios, depositando um beijo estalado sob ela. A pequena estava tão feliz, tentava a todo custo mostrar a Ryan o quanto se alegrava com sua companhia. Ele parecia entender. Ao menos ela esperava que entendesse. Ele valia tanto.

Não demorou muito para que chegassem à seu destino. O lugar era afastado da movimentação da cidade, ficava no ponto mais alto dela, na verdade. Era rodeado apenas por árvores e plantações, silencioso o suficiente para o único barulho a se ouvir ser a respiração dos dois ou o motor ainda ligado. Ryan se esforçou para encontrar o lugar perfeito, e então, estacionou.

Os dois saíram do carro e, um ao lado do outro, contemplaram a vista que tinham no horizonte. As luzes ambares se misturavam com as mais claras, fazendo Julie se lembrar do Natal. A menor sentia-se viva toda vez que recordava de datas como esta. Ela desejava  poder se transformar em um daqueles pontos iluminados, como se dessa forma pudesse se tornar infinita.

Apertou a mão de Ryan na sua, sem tirar seus olhos da paisagem, sussurrou - Obrigada, Ryan... - respirou fundo, absorvendo o encanto que aquele lugar possuía, o cheiro das plantas, da terra. Cheiro de pureza, ela pensou. O maior não disse nada, apenas a beijou na testa, e continuou a encarar o horizonte da mesma forma que a pequena fazia.

Naquela noite, um pedido inconsciente foi jogado ao vento.


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