"Trouxe isso pra você de São Paulo. Achei sua cara", ele colocou o presente que havia comprado para mim, uma flor de pelúcia cor-de-rosa, sob minha carteira escolar e sorriu com os olhinhos brilhando, esperando que eu agradecesse.
"Tira essa porcaria da minha mesa", berrei entre os dentes, sentando-me. Apertei a florzinha entre os dedos com desdém, como se fosse arremessa-la longe a qualquer instante. Na verdade, eu estava tão furiosa por algum motivo, que mal tinha escutado o que meu amigo havia dito. Respirei fundo, e levantei meus olhos para encara-lo, me dando conta de que mais uma vez, o stress havia falado mais alto. Ele olhava em minha direção sem piscar, desconsertado, em pé, na sala de aula. Parecia que uma lágrima iria escorrer de seus olhos, mas faltava reação e força suficiente para o ato. Ele só me olhava, a medida que eu ia caindo na real, e me sentia esmagadoramente perversa, amarga, fria, impossibilitada de controlar meus próprios impulsos de raiva e demonstrar um pouco de afeto.
"Nossa", foi a primeira coisa que ele conseguiu dizer. "Não precisava falar assim. Se você não quer, me devolve então", e cada palavra dele cortou levemente a minha pele, ardendo, causando-me calafrios. Qualquer maneira para me desculpar parecia inútil. Não conseguia mais encara-lo, então abaixei os olhos e sussurrei "Não. Eu quero ela", e abracei a flor sob o peito, protegendo-a caso ele quisesse me tira-lá. "Desculpa. Tou nervosa", prossegui mais baixo ainda. Não voltei a olha-lo, a vergonha não me permitiu, mas senti o ar voltar aos meus pulmões assim que ele disse "Tudo bem. Só não faz de novo, ok? Tenta se controlar", e eu assenti balançando a cabeça como uma criança que acaba de levar um sermão.
E era assim que eu me sentia. Uma pequena e indefesa criança que fazia as coisas sem pensar, e depois chorava ao sentir-se culpada por magoar alguém. Nesse dia eu, provavelmente, descobri que não levava jeito para demonstrar a emoção certa no momento certo. Mas ele não se importava se eu demorasse muito para aprender, ele continuaria ali, ao meu lado, paciente, ainda que eu repetisse essa cena muitas e muitas vezes. Ele era um bom garoto, e nós dois éramos melhores juntos.
(...)
Ao telefone, alguns dias depois.
"A flor tá aqui perdurada com a cabeça pra baixo, no meu guarda-roupas", eu disse vagamente, olhando para ela e sua "carinha feliz" desenhada sobre o fundo amarelo.
"Porque?", ele pareceu surpreso.
"Ah... Ela tá sorrindo demais. Não estou tão feliz assim. Deixei ela de cabeça pra baixo, então", dei risada, e ele me acompanhou, gargalhando alto.
"É... Você não tem jeito", afirmou.
Um comentário:
infelizmente todos tem seus dias ruins..ainda bem que passa depois *_*
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