Segurei os livros escolares, deixando a prova em cima da carteira onde o coordenador estava. Ele mal levantou o olhar para encarar meu rosto, mas disse sua frase cliche "Gabaritou essa, né?", fazendo meus olhos revirarem em desdém. Pouco importava a nota que eu tiraria, a única coisa que eu precisava naquele momento era sair da sala e respirar ar puro.
Desci as escadas apressada, esperando que minha amiga ainda estivesse na frente da escola me esperando. Puxei a bolsa que insistia em deslizar pelo ombro, ajeitando-a melhor. Mais alguns passos, e estava fora daquela prisão disfarçada. Encarei a rua, indo para debaixo da árvore que existia ao lado da entrada. Ela estava lá. Sorri, mas sem animo algum.
- Foi bem? - perguntou.
- Não sei - dei de ombros - Eu mal tinha estudado.
- É, eu também não. Mais uma vermelha no boletim, certeza! - deu uma risada ironica, já acostumada com a situação.
- Acho que, dessa vez, não escapo das finais - afirmei, sentando em um degrau na frente do portão azul.
Encarei-a fazer o mesmo, sentando-se ao meu lado.
- Odeio esse calor, sabia? - eu disse, roendo uma das unhas.
- Eu também... - ela continuou.
- Me faz mal. Minha cabeça dói, meu estômago fica estranho, e parece que nada funciona.
- Comigo também é assim. Igualzinho!
- Sério? - senti uma gota de suor escorrer pela lateral do meu rosto.
Maldito sol de verão das três da tarde.
- Sim. Ainda mais tendo que vir aqui todos os dias. É um saco! - exclamou.
- Aham. Se não estivessemos nessa estação, pelo menos... Eu não gosto. - pensei nos dias frios de inverno, e senti uma falta imensurável.
- É. Gosto quando chove, e a gente pode dormir a tarde todinha - sorrio.
- Verdade! É muito bom.
- Ah, minha carona chegou. Até amanhã, amiga! - disse já saltando para a caminhonete.
- Ok, até.
E meu pensamento fuzilou o sol mais uma vez. Ele não poderia, por misericordia, ser um pouco menos quente? Eu não nasci para aguentar o verão quarenta graus.
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