quinta-feira, 12 de abril de 2012

"Uma leve melodia elevando-se através da minha atmosfera..."


- Oi? Tem alguém aí? - perguntou ela, antes do rosto de Daniel aparecer diante à porta.

Sorriu assim que seus olhos castanhos encontraram os dele, então, meio incerta, deu alguns passos a frente, aproximando seus corpos o suficiente para sentir seus próprios joelhos tremerem. Queria pular em seus braços como naquelas cenas de filmes românticos, desesperadamente, enlouquecidamente. Queria ser apertada com força e cuidado, tudo ao mesmo tempo. Queria que ele quisesse isso também. Mas ela soube, encarando aqueles olhos caídos, que deveria se conformar com um aceno de cabeça e um "olá" tímido e desajeitado.
Eles se encararam por poucos segundos, antes dele entrar novamente na casa, chamando-a para acompanha-lo. Lá dentro, tudo que Samanta viu foi uma imensa bagunça, como se ele estivesse de mudança, ou algo do tipo. Tentou controlar sua curiosidade, mas desistiu antes mesmo de ouvir a voz do garoto.

- Porque essas malas e as caixas?
- Vamos viajar - ele respondeu, olhando ao redor, mas nunca para ela. Nunca em seus olhos.
Ela não ousou perguntar o porquê dele não encará-la. Essa era uma dúvida antiga, uma dúvida que talvez ela levasse para o túmulo. E talvez ela nem quisesse saber a resposta.
Seguiu-o até um dos quartos, que ela desconhecia o dono, mas também não se interessava em saber.
- Cadê sua família? - disse baixo, sentando-se na beira da cama cheia de roupas espalhadas.
- Saíram... - ele respondeu, ainda de pé - Fiquei aqui pra terminar de arrumar as coisas - apontou para as caixas no chão.
Ela ficou feliz em saber que teriam, finalmente, um tempo sozinhos. Mesmo que fosse pouco, ou quase nada. Já era bem mais do que ela se quer pensou que teriam. Apesar da situação não ser exatamente como em seus sonhos, sentiu-se realizada por estar ali, tão perto dele, encarando seus cabelos que pareciam maiores agora, e caiam em cachos angelicais sob o pescoço nu.
- Ah! Lembrei! - exclamou ela, recordando-se do motivo pelo qual tinha ido visitá-lo - Preciso de uma palheta. Pode me dar uma? - balançou os pés no ar, que como sempre não chegavam a tocar o chão. Inclinou-se para frente, apoiando as mãos na cama, uma de cada lado, e abriu o maior sorriso que pode.
Pela primeira vez em tempos, viu Daniel abrir um sorriso de verdade, um sorriso para ela. Só para ela, e ninguém mais. Sentiu-se tão sortuda que pensou novamente em se atirar nos braços dele para um abraço longo. Mas deixou o pensamento morrer, e continuo sentada.
Ele se movimentou em volta da cama, tateando as cobertas, e depois, bisbilhotando sob a velha penteadeira que existia no comodo. Samanta soube que ele havia encontrado o que procurava quando sua mão parou na frente do rosto dela, e abriu-se, mostrando uma palheta branca. Ela segurou o objeto, mas não pode ignorar a intensa onda de arrepios quando seus dedos tocaram os do maior. Desistiu de qualquer promessa que tinha feito a si mesma, e levantou-se, abrindo os braços e apertando-o forte contra seu corpo.

Seus pés saíram do chão, e ela percebeu que Daniel correspondia aquele abraço com tanta intensidade e desejo quanto ela. Escondeu seu rosto no pescoço dele, roçando a bochecha - que deveria estar bem mais avermelhada que o normal - em sua pele quente. Respirou fundo, fechou os olhos, e tornou a abri-los. Precisava ter a certeza de que aquilo não era um sonho. E se fosse, ela não queria acordar tão cedo. Deixou que ele a abraçasse até estarem cansados do contato, e então voltou a sentir o chão em baixo de seus pés. Mas, na verdade, ainda podia sentir o corpo no alto, elevando-se em uma nuvem de pensamentos, lembranças e desejos.

Encarou-o, e percebeu que ele sorria. Sorria de novo, e com vontade. Sem receios ou vestígios de arrependimentos. Sorria da mesma forma que ela se lembrava. Seu sorriso favorito, no mundo todo. E ela não ligou de gastar seus últimos segundos admirando-o, já que não sabia quando veria-o daquela maneira novamente. Se é que veria. 

Deixou o silêncio tomar conta. Deixou o quarto se inundar pela alegria que ela sentia, e fingiu que tinha tempo, tempo, tempo. Mas, não tinha.

Escutou uma voz lhe chamar, vindo de fora, e soube que era hora de partir. Agradeceu-o pelo objeto que tinha em mãos, abraçou-o mais uma vez. E dessa, sentiu o corpo amolecer e depois arder, como se estivesse queimando em frente. Sentiu as lágrimas presas nos cílios cheios de rímel, e o sorriso se perdeu.

"Adeus, amor..." pensou, e então virou-se de costas para ele, deixando-o pra trás. Deixando-o novamente no passado.


4 comentários:

Rafa Antunes. disse...

ficou lindo, demais! haha [:

Anônimo disse...

lindo, amei a história, é complicado deixar a vontade de abraçar alguém de lado, geralmente quase impossivel.

beijos
shakespearementiu.blogspot.com.br

Anônimo disse...

ai que triste kk :´)
mais adorei a história

Charlie disse...

Preciso mesmo dizer que eu AMEI????
Lindo demais, parece que to no quarto olhando acontecer assim, como um filme que provavelmente mole como eu sou choraria no final. HAHAHHA lindo mesmo anjo *-*