sábado, 29 de dezembro de 2012

Essa é a última vez que.

- Vem aqui, me abraça. Não me deixa ir pra casa - ela disse mais pra si mesma do que pra ele, escondendo seu rosto na camiseta do rapaz.

- Para com isso - o amigo falou baixo, não de forma implicante, mas, com um tom acolhedor, mostrando que de alguma forma ela precisava tirar forças e superar tudo aquilo - Você vai chegar em casa e vai dormir. Vai ter uma boa noite de sono - ele tentou convencê-la.

Ela sabia que não seria bem assim. Que rolaria por horas a fio antes que o sono a tomasse no colo e a levasse para algum lugar melhor, livre de qualquer rosto indesejável.

- Tá doendo... - ela continuou, sem lágrimas. De maneira alguma permitiria que elas chegassem a escorrer pelo rosto. Doía sim. Ela nem conseguia se lembrar de dor maior que aquela. Mas guardava tudo dentro de si, com os olhos vermelhos, e o lábio inferior preso entre os dentes.

- Você vai ficar bem - ele a manteve no abraço. Caloroso. Amigável. Exatamente tudo que ela precisava pra amenizar seu sofrimento. Enquanto ele estivesse ali, confortando-a em seus braços longos e bronzeados, ela sabia que estaria sã, rindo, mesmo que forçadamente, só pra fingir que dava conta.

Quando voltasse para casa, porém, seria só ela e seus pensamentos. Ela e a noite quente. Ela e a vontade de chorar todos os oceanos do mundo até que não sobrasse mais autopiedade para se apegar. Humilhada por suas próprias escolhas, olhando para seu reflexo no espelho, olhos caídos, infeliz por tudo aquilo que pensou que teria, e não teve.

O celular vibrou em cima de seus cadernos, avisando que sua carona havia chegado. Ela ergueu os olhos mais uma vez para encarar o rosto do jovem - Vai ficar tudo bem - ele repetiu como se soubesse que a amiga precisava ouvir isso novamente. Deu-lhe um beijo no alto da cabeça e solto-a do abraço. Era verão, mas o ar bateu fresco em seu rosto assim que ele se afastou. Ela puxou a bolsa para ajeitá-la no ombro e começou a caminhar, olhando para as luzes das motocicletas como se alguma delas pudesse iluminar realmente o seu caminho. Não, não esse tipo de caminho... Ela queria encontrar aquela tal de luz no fim do túnel.




2 comentários:

Vane M. disse...

Laís, gosto de ler seus escritos. em momentos de dor e decepção é difícil enxergar a luz, mas ela está lá, basta manter a coragem e a fé.
Desejo que seu novo ano seja de realizações de sonhos e de muitas alegrias.
UM abraço, feliz 2013!

su disse...

é sempre bom ter um amigo para nos ajudar nesses momentos...
~Emilie Escreve~