quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Que seja bom, que seja.


É dia trinta e um de Dezembro e as pessoas se amontoam nas lojas que ainda estão abertas. Os supermercados estão cheios daqueles que, como sempre, deixaram para comprar o peru, as frutas e bebidas em cima da hora. E a acomodação ou magia pela data festiva nunca muda, mesmo sendo exatamente igual em todos os anos.

O mundo não acabou como alguns acreditavam, mas, o clima com certeza é bem mais quente do que já fora um dia. Quase insuportável. Regatinha e short não dão mais conta, não. O jeito é sair de casa, e quem não tem piscina, apela pra sorveteria mesmo.

Lotada. Os funcionários mal dão conta do fluxo de gente que entra e saí, pede, fala, senta, levanta. O sorvete de ninho trufado acabou e eu faço careta, pensando em qual outro sabor posso pedir. Nozes e Ferrero Rocher, peço pra uma mocinha morena depois de uns dez segundos. Ela coloca no copo e me entrega com uma colher branca. Branca. Opa! Comecei bem, branco é cor de ano novo (sigo tradições). Sorrio e agradeço, já olhando ao redor pra achar uma mesa livre naquele lugar tão cheio.

Depois de alguns minutos, estamos sentadas, eu, mamãe, e sua amiga. Elas conversam enquanto eu observo um casal que acaba de entrar. Eles devem ter a minha idade. Ele é babaca igual aos 70% dos caras nessa faixa etária. Dá pra perceber pela forma como ele fala com a funcionária.

"Ela vai querer sorvete de milho-verde", ele diz referindo-se ao sabor que sua namorada supostamente quer.

Que otário. É claro que ela não quer...

"Não quero, não! Para com isso", a namorada diz um segundo depois, concordando com o meu pensamento.

Ele continua fazendo algumas gracinhas e, então, eu pisco meus olhos e ela não está mais lá. O cara começa a chamá-la e nada. Anda até a porta do local e finalmente a encontra, provavelmente em estado de nervos graças àquelas brincadeiras sem graça.

Na minha mente, estou rindo um bom tanto. Acho engraçado essas cenas típicas de casais que renderiam uma comédia-romântica clichê. Brigam, brigam, brigam, se beijam. É sempre assim. Dá até vontade de mudar o foco... E mudo.

Meu sorvete. Estava uma delícia, mas agora já se encontra no fim. Brinco com a colher, fazendo a pasta marrom girar dentro do copinho. Levanto meus olhos e deparo-me com uma garota logo a frente, encostada em um dos freezers.

Regata roxa, bermuda até metade da coxa, descalça. É. Sem sapatos. Uma mulher ao seu lado sustenta uma bolsa Louis Vuitton, outra tem uma menos luxuosa da Kipling nos ombros, e mais a direita uma jovem exibe seu Ray Ban colado na cara. Mas a garotinha não tem bolsas, não tem óculos, nem aqueles colares cheios de strass que metade das moças ali está usando. E ela não está sem sapatos porque falta dinheiro pra comprar um par. Não. Na verdade, é uma garota bem vestida, a mãe ao lado está bem arrumada.

Só que provavelmente usar sapatos naquela hora não lhe parecia uma boa ideia. Pra quê? Fazia calor, muito, muito calor. Pra quê tanta coisa? Em menos de 24 horas um novo ano ia começar, enquanto eu me perguntava o porquê de vivermos pra passar determinadas imagens quando ser simples é muito mais prazeroso. Simples em todos os sentidos. Leve. Leve. Tipo branco. Tipo andar descalço.


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