segunda-feira, 20 de julho de 2015

Pássaros matinais no meio da noite.

           
            Poucos meses atrás, nesse exato momento, eu estaria encaixada no braço direito de Danilo enquanto Raíssa estaria perdida na bagunça de seu material, tentando enfiar uma metade dentro da pasta cor-de-rosa e segurando a outra parte de forma desengonçada. E nós todos estaríamos rindo. Ainda mais depois de ouvi-la dizer que ninguém nunca a ajuda com todas aqueles livros e anotações. Ela falaria aquilo fingindo tanta indignação que seria impossível conter as risadas. E no fundo, talvez ela estivesse com um pouco de razão. Porque depois de rir, eu estaria andando pela biblioteca - já quase vazia - em passos rápidos a medida que olharia para trás, certificando-me de que eles vinham logo em seguida. Danilo sempre pararia pra jogar conversa fora com os funcionários e isso fazia com que Raíssa ganhasse um pouco mais de tempo. E eu esperaria na porta como na maioria das vezes, aproveitando para observar a multidão que se aglomeraria entre as catracas e escadaria. Se não fosse muito tarde, talvez Olívia me fizesse companhia e, então, estaríamos conversando sobre alguma novidade do mundo virtual.
              Mesmo que fosse o auge do verão, ao passar pela entrada, sentiríamos a brisa fresca da noite brincar sob nossa pele e, com certeza, Raíssa iria pedir um abraço. Ela pedia abraço quando estava frio, ou quando era sexta-feira, ou em qualquer dia, simplesmente porquê ela gostava de nos abraçar e agente ria de novo, simplesmente porque gostávamos de rir juntos. Existiam motivos mesmo quando não estavam ali, aparentes. E agora estaríamos assim, provavelmente nos abraçando e dizendo um "até logo", para repetirmos cada cena no dia seguinte, que de tão repetidas, ficariam gravadas. Então hoje seria exatamente igual. Eu, vocês, e nossas noites.


"Eu sinto a luz
É você e eu
E quando os pássaros matinais estão no meio da noite
Eu sei que você sabe o que se sente
eu sempre vou lembrar desses tempos..."

Nenhum comentário: