segunda-feira, 23 de maio de 2016

Cada seriado, um aprendizado: Chuck

O garfo brincava com o restante de arroz que permanecia, já frio, repousado no prato. Pelo canto dos olhos, dava pra ver mamãe sentada na ponta do sofá, mastigando um doce qualquer como se fosse a melhor refeição do dia. Voltei a brincar com o talher, desinteressada nos restos de alimentos, até que em certo momento, minha voz saiu, fazendo mamãe virar o rosto e me encarar.

- Chuck termina hoje - disse à ela, que nessa altura já tinha terminado de mastigar todo o doce.
- Ah não... - Minha mãe interrompeu, desapontada. Remexi mais um pouco da comida no prato, tentando imaginar se ela estava brincando ou sendo sincera sobre o comentário que acabara de fazer.
- Você também vai ficar triste, mãe? - Perguntei, por fim.
- Acho que vai fazer falta ouvir você e seu irmão falando desse chuck, chuck, chuck, todos os dias. - Ela respondeu, fazendo-me rir.

Dividimos uma risada rápida, e antes que eu levasse meu prato para lavar, comecei a pensar nos últimos meses. Talvez antes... Talvez anos atrás. Quando meu irmão obrigou-me a ver o primeiro episódio daquele seriado que, até então, não parecida atrativo pra mim. Eu e minhas meninices. como ia gostar de uma história de espionagem? CIA? Sem chance! Eu já tinha tentado ver algumas coisas do gênero, e acabei não acompanhando. Porque seria diferente? Não foi. Aquele episódio passou e eu mal consegui me concentrar, tão pouco me apegar a qualquer personagem.

- Não gostei. Não quero ver mais - eu disse à meu irmão, que ficou visivelmente chateado. Era o favorito dele, e mesmo acreditando em seu bom gosto, não senti vontade alguma de ver o segundo episódio daquilo.

Ele insistiu um pouco, mas conhecia a irmã cabeça dura que tinha. Comigo não é não. E não, foi não... Por anos... Sempre que podia, ele comentava sobre o que eu estava perdendo, que deveria dar mais uma chance àquele seriado, que eu ia mudar de ideia. Então, em algum mês no começo do ano, sabe-se lá porquê, abaixei a guarda e disse "ok, só mais uma tentativa".

Novamente, o primeiro episódio passou sem que eu prestasse atenção nos detalhes. Meu irmão, paciente, sentou-se ao meu lado e, com cautela, foi explicando cada parte que passava na TV, ressaltando a importância de cada personagem.

Os créditos subiram e a tela escureceu.

Era pra eu ter gostado dessa vez? Porque, de novo, não parecida tuuuuuudo aquilo que ele tentava me fazer acreditar, então, fui sincera e revelei que a tentativa não tinha dado certo. Mas ele tinha uma última (talvez?) carta na manga, e o segundo episódio começou a rodar. 

Abraçada no travesseiro, eu rolava de um lado p'ro outro, visivelmente desconfortável. Tentava focar minha atenção na TV, mas, de repente, meus olhos já estavam no celular que eu tinha em mãos. Meu irmão percebia, chamava minha atenção, e lá íamos nós de novo... Eu tentando gostar daquele seriado, e ele empenhado pra que isso acontecesse.

Assim se passou o segundo, terceiro, quarto, quinto episódio.

Só notei que estava finalmente conquistada, quando não pude mais evitar que risadas escapassem com o jeito desajeitado e apaixonado de Chuck Bartowski. Não pude evitar o medo a cada missão, nem a alegria e delírio em cada momento que John Casey surgia do além e salvava a todos. Não pude evitar as gargalhadas com Jeff e Lester, e claro, o fiel e doce Morgan Grimes. Não pude evitar a admiração e a empatia a Sarah Walker. E não pude deixar de sonhar com uma vida incrível igual a do casal Devon e Ellie.

Foram tantos detalhes que me conquistaram, que por si só já bastariam, mas sempre tem aquela peça chave, aquela reflexão que faz com que os seriados aos quais nos apegamos, tornem-se tão especiais. Eles nos lembram o quanto a vida é impressível, porque mesmo que já saibamos, às vezes deixamos de pensar nisso com frequência.

Chuck, assim como outros seriados, me proporcionou muitas lágrimas e risadas. Junto com essas sensações físicas, proporcionou-me também a recordação da força que o amor e a persistência tem na vida das pessoas. Que as amizades fiéis que cultivamos, estarão sempre prontas para nos salvar, mesmo que não seja de um ataque terrorista. Noites de filme e pipoca, em boa companhia, salvam muita dor também. E que família, ah... Família em primeiro lugar, sempre. Inclusive quando seu irmão disser: assiste que você vai gostar.






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