segunda-feira, 26 de setembro de 2016

"Até logo" ao Amor da Minha Vida; Óliver.

                Mais uma vez o relógio marca 17 horas e, apressadamente, eu procuro minha agenda. Não posso ir embora sem ela, então levo um minuto ou mais até encontra-lá. Ao passar pelo portão, penso em você, talvez pela centésima vez durante o dia, que se estendeu em momentos dolorosos de lembranças suas. E, mesmo com as noticiais sobre sua saúde vindo em dolorosas doses homeopáticas, sei que a pergunta deve ser feita.
- Como ele está? - Minha voz sai baixa, quase não querendo sair...
- Vamos pro enterro... - Minha mãe revela, tão baixo quanto minha voz, infelizmente, não preciso que era repita. Eu entendi. Respiro fundo, absorvendo. Você se foi. É isso? Finalmente descansou, meu pequeno? Sinto as lágrimas se revirarem, mas nenhuma salta. Há tanto pra perguntar...
- Como foi a partida? - É minha primeira duvida.
- Foi lindo. - Minha mãe responde.
Lindo? Existe uma forma linda de partir? Fico instigada, querendo saber os detalhes.
- Como assim? Por que? Ele morreu agora?
- Não, na hora do almoço.
- E por que você não me contou?
- Pra você não ficar mal a tarde toda, no serviço - Ela revela.
- Entendi. Mas e meu irmão? Foi depois que ele voltou para o trabalho? 
- Não... Essa foi a parte bonita... Foi totalmente espiritual... - Conta ela, emocionada. Meu coração sente a dor quase literal, e ao mesmo tempo, uma paz que não sou capaz de explicar. - Seu irmão segurou ele nos braços, com o soro e tudo, durante uma hora, incansavelmente. E então, quando eu o chamei para irmos embora, o Óliver deu suas últimas respirações, fundas, e então parou, ali, nos braços dele. - Ela termina de contar, e estou toda arrepiada, emocionada, infinitamente triste pela partida do nosso amor, infinitamente aliviada pela dor dele ter, finalmente, cessado.
- Meu Deus... Exatamente como meu irmão havia pedido... - Digo, embargada pela emoção do momento, lembrando da conversa que tivera com ele, na noite anterior. "Eu não quero que o Óliver parta sem que eu esteja ao lado dele. Eu não quero que ele passe por isso sozinho, internado..." disse, tentando conter as lágrimas.
Minha mãe continua, então, contando enquanto dirige - Sim, Óliver mesmo com tanta dor, esperou mais uma noite e uma manhã inteira pra poder descansar em paz só depois de um último colo do seu irmão.
- Ele foi especial até pra partir... - digo à minha mãe.
E os fatos se desenrolam automaticamente, sem que eu tenha tempo pra pensar ou sentir, é tudo tão estranho quando se trata da morte; Você só se da conta do que realmente aconteceu tempo depois, quando está em casa, sentindo ausência do ser que lhe era querido.

(...) Filho, nós batemos três palminhas pra você. Será que de algum lugar você viu? Eu sei que odiava quando fazíamos isso toda vez que você terminava de fazer suas necessidades na caixinha de areia. Era nossa forma de mostrar que estávamos orgulhosos - e nosso amigos e familiares riam, e chamavam-nos de loucos. Nem nos importávamos... Porque jamais entenderiam o que você era pra'gente. Mas você sabia, não é? Hoje batemos palmas, suas últimas, não pelo xixi que você fez no lugar certo... Dessa vez você recebeu palmas pelos 14 anos que dividiu conosco. Recebeu palmas por aquele dia perdido em março de 2002, quando você correu atrás da gente e escolheu vir morar no nosso lar. Com toda nossa gratidão e amor, hoje, Óliver, você recebeu palmas por tudo que nos ensinou, por todo afeto incondicional que nos dedicou, por ter ficado ao nosso lado nas nossas doenças e alegrias, por ter se perdido infinitas vezes e voltado pra casa; Por mesmo diante de tanta dor, aguentar anos a fio, só pra ficar mais um tempinho com a gente. Óliver você foi nosso amigo, filho, guerreiro, você foi o caçulinha dessa família... Sempre será. E diante de todo o sentimento sublime, hoje você teve o encerramento mais lindo que poderia... Você mereceu descansar, meu anjo. E nós estamos aqui, todos chorosos, sentindo sua falta, olhando cada vídeo e foto sua, desejando energias positivas pro seu caminho de luz e evolução... Fique bem, onde estiver, e não esquece do colinho do Vinicius e nem daqueles apertões de amor que eu te dava, tão pouco da overdose de carinho no pescoço e barriga, tá? Obrigado pela sua existência... Obrigado mesmo... A gente se encontra na próxima, pode ser? Estaremos te esperando, nosso eterno Ruivinho. <3 p="">


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