quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O momento exato em que desisti de você

      No auge  da nossa juventude, eu só conseguia olhar pra gente e imaginar uma união eterna. Mesmo com as mudanças que o tempo iria fazer em nossos rostos e em nossa vida, parecia certo que passaríamos por tudo isso juntos, rindo quando sua calvice aparecesse e das rugas que eu iria ganhar. Nós continuaríamos sendo confidentes, inventando piadas que só nós dois entenderíamos, e o melhor, sempre saberíamos tudo um da vida do outro, como se fossemos livros escancarados. Você já seria adulto o suficiente pra não ter medo quando sua mãe saísse de casa durante a noite, e diferente de quando éramos jovens, não iria me ligar pra que eu ficasse te fazendo companhia pelo telefone até adormecer. Mesmo assim, teríamos nossa cumplicidade integra. Porque eu estava certa de que todo final de dia, ainda que arrumássemos trabalhos distintos e estivéssemos sobrecarregados por eles, poderíamos ligar um pro outro e passar horas a fio conversando sobre amenidades. Então eu iria te sugerir uma séria nova na netflix, e você com certeza faria um resumo detalhado do que estaria acontecendo no mundo da música. Mas caso essas ligações diárias não fossem possíveis, porque poderíamos estar simplesmente ocupados demais com a vida adulta, nós certamente combinaríamos um café no sábado a tarde... Ou quem sabe no domingo... Ou quem sabe uma vez por semana... Uma vez por mês, talvez?

      E foi exatamente aí que tudo desandou. Nesse ponto onde a gente cria expectativas, mesmo sabendo o quão prejudicial elas podem ser. É aquele velho meme de EXPECTATIVA x REALIDADE, no qual tudo que eu imaginei foi por água a baixo... Ou tempo a baixo... De repente, nosso telefonema que seria diário, passou a ser casual, de quinze em quinze dias, talvez mais. Aquela viagem que você fez, eu acompanhei via instagram junto com mais quinhentos desconhecidos, sentindo como se eu fosse exatamente um deles. Uma dessas pessoas que você constantemente tenta impressionar com fotos de bebidas e restaurantes de nomes difíceis.

       Certamente eu queria muito me impressionar com isso também, mas tudo que me impressiona agora é o fato de como errei feio, errei rude ao imaginar que nosso caminho continuaria unido por aquela linha invisível, porém resistente. Aquele fio responsável por ligar as pessoas que se amam tanto ao ponto de serem protagonistas daqueles dramas românticos que rendem bilheteria cheia. Desconsiderando as peças que o destino queira traçar, esse laço as manteria unidas pelo resto de suas vidas.

        Quase dói pensar sobre isso, e então, constato o obvio. Quase é pouco demais. Quem tem sentimentos intactos não vive cercado por "quases". Eu quase te liguei pra te contar da minha última viagem, eu quase senti vontade de brigar com você por não ter me chamado para ajudar com os preparativos da última festa que deu... De vez em quando, quase sinto vontade de te chamar para jogar conversa fora, mas aí me lembro de todos os "não vai dar", de todos os encontros que não saíram das mensagens no celular... Lembro de tudo que não temos mais, de tudo que não somos mais. E quase sinto sua falta... Mas é justamente por ser quase, que tenho a certeza de que o que nós tínhamos pode ser resumido naquela frase tão bem dita por Emma Morley, em Um Dia, "eu te amo muito. Muito, muito, e provavelmente sempre amarei... Só que eu não gosto mais de você."

        Talvez porque eu quase te conheça... E fica difícil insistir e gostar de alguém que a gente nem sabe mais quem é.


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